quinta-feira, 8 de março de 2012

Lugar do Homem na Cultura Grega - visão da Antropologia Filosófica


Este é um resumo feito por mim do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes do fórum de discussão sobre “O Lugar do Homem na Cultura Grega” da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existencia, Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo (março/2012).


Diz o Prof Vicente: desejo observar algo que considero interessante nessa compreensão do processo de formação cultural do homem grego.
Geograficamente falando fazia parte do mundo grego antigo a própria Grécia, as muitas ilhas que povoam o mar Egeu, orlas marítimas da Ásia Menor, do Mar Negro e do norte da África, bem como, terras na Itália, na Sicília e no Sul da França. Portanto, verifica-se que o conceito de mundo grego não indica uma unidade territorial, e não é um conceito geográfico. O mundo grego conceitual é estritamente cultural.
Assim sendo, isso significa dizer que a totalidade dos grupos humanos viventes naquele período, mesmo que espalhados por várias localidade, mantinham a mesma cultura e se entendiam enquanto “gregos”.
A reflexão grega sobre o homem constituiu-se a partir de vários influxos da percepção da realidade pela religião, pela sociedade e pela filosofia grega. Com base nisso encontramos certos elementos que são relevantes para a compreensão da visão antropológica grega. Assim, por exemplo, na concepção da antiguidade, as respostas estavam ligadas a algumas perspectivas imateriais e eternas.
Cultura aqui se entenda como a maneira de viver e ser de um povo, diversa da maneira de ser de outro. Suas crenças próprias, típicas, características. Os gregos espalhados pelos diversos países constituíam uma única nação cultural.
A cultura é compreendida como totalidade das manifestações e formas de vida que possibilitam a caracterização de um povo, sendo grego ou não. A cultura é a própria existência do homem, posta em questão pelo eu individualizado: todo o modo de ser do homem é um questionamento. Ao fazermos isso, inauguramos uma nova linguagem, uma nova forma de compreensão do mundo ou do próprio homem que o habita.
 Este processo de reconhecimento de algo que era permanente num horizonte de diversidades de povos, trouxe a compreensão original de pertença a um só povo.
A cultura para o homem grego, pode ser entendida como a totalidade das manifestações e formas de vida que permite a caracterização de um povo. Pois, como sabemos, foi sob o aspecto da cultura que o povo grego considerou a totalidade de sua obra originária em relação a outros povos.
A cultura grega não é um dado exterior ou soberano, mas é um “produto” do agir do homem. Na sua individualidade o homem cria, pensamentos, ações e linguagem que formam a cultura que é também o lugar da realização comunitária.
Efetivamente é próprio do povo grego esse processo de reflexão sobre si mesmo, sobre suas características, sobre seu modo de vida, seus medos. Essa especificidade está explícita inicialmente nos mitos e posteriormente nos demais pensamentos que foram sendo produzidos por aqueles que consideramos “os pensadores” do período. E a pergunta inicial de tudo é: quem é o homem.
O debate que era premente naquele tempo, para não dizer urgente eram questões como: Que bicho é o homem que tem a capacidade de colocar a si mesmo, ao mesmo tempo, como objeto e como sujeito da reflexão filosófica? No entanto, somente podemos realizar o retorno ao que somos se nos dignarmos alcançar o fim do caminho discursivo que percorre a pergunta inquietante: “quem sou eu?”, através da perseguição da pergunta: “quem é o homem?
Contudo, ao discutir sobre quem é esse homem os debates e as reflexões transpõem o espaço do indivíduo e caminham em direção ao coletivo.
O sentido da cultura para o homem grego representa a superação do Zoe (vida animal) para uma vida ideal – BIOS – onde qualifica a pessoa para o exercício da vida política. A partir da cultura grega há o surgimento da cultura como unidade histórica dando expressão ao homem grego como para todos os outros povos independente de ter ou não origem grega. A cultura passa a ser entendida como um princípio formativo através da caracterização de um povo em suas manifestações e formas de vida.
Particularmente considero essa a grande sacada dos gregos, qual seja, compatibilizar de forma absolutamente equilibrada o espaço público e o privado, entendendo o primeiro como um aprimoramento do segundo. Ou seja, é no âmbito das relações que as diferenças se mostram importantíssimas e os interesses individuais se mostram menos importantes. Daí a ênfase no espaço público como o lugar da felicidade e da realização. Aparece aqui a “polis”.
 Entender a pólis é fundamental para entender o sentido da existência do homem grego. Dentre outras questões, a geração de novas estruturas existenciais se torna possível pois permite que, a principio, o homem se perceba como indivíduo e como ser político.
Efetivamente, a realidade cultural fez com que na organização política o povo grego se estruturasse sua autonomia, o que fez surgir – como todos e todas sabemos - as Cidades-Estado autônomas.
Um outra questão é o sentido de existência para os gregos. Antes do nascimento da filosofia, os poetas tinham imensa importância na educação e na formação espiritual do homem entre os gregos, muito mais do que tiveram entre outros povos. Esses poemas também são conhecidos como mitos. Conhecer o significado, a estrutura e a linguagem do mito é de fundamental importância, se quisermos ter acesso à cultura helênica.
A força impulsionadora do mito é o mistério que desafia o homem, que envolve a sua vida e o seu ser. O homem sente-se como que jogado na existência, em meio à multiplicidade de fenômenos, que o desafiam e que ele tem de ordenar ou organizar, significativamente, em função de um viver razoável.
Portanto, a estrutura do pensar mitológico e uma estrutura dualista. De um lado temos o mundo real, físico ou social, marcado pela precariedade significativa, ao qual se opõe o mundo do sagrado, também ele, segundo o mito, real, apesar de transcendente.
O mundo dos deuses opõe-se ao mundo empírico, um mundo de significado pleno. E é por ser pleno e diverso do mundo empírico e, transcendente a ele, que o mundo dos deuses pode explicá-lo. Portanto, a função do mito é certa forma fazer o grupo viver ou vivê-los.
Os mitos traçavam caminhos de existência significativa e caminhos de comportamentos válidos. Portanto, não são delírios. Neles – os mitos - , pelo contrário, sente-se pulsar o questionamento que, mais tarde, a razão explicitará melhor.
No mito, a razão não faz, ainda, abstrações e não se conhece como força cognitiva crítica, capaz de depurar, no crivo da lógica, as imagens da fantasia. Contudo, é forçoso reconhecer os limites dessa abordagem fantástica da realidade.
Na história do mundo grego, Homero (Ilíada e Odisséia) e Hesíodo (Teogonia) marcam esse início.

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