sexta-feira, 30 de setembro de 2011

UM EXEMPLO DE VIDA






Este é um depoimento
que além de admirarmos 
devemos ser gratos...
não só pelo exemplo deste rapaz 
mais olharmos para as nossas vidas 
e percebemos 
como SOMOS FELIZES! 


Assim, as limitações corporais
que podemos ter
São verdadeiros DESAFIOS
para serem enfrentados
para NOVAS POSSIBILIDADE!
Então....
Voce é perfeito!
APROVEITE!
E
Seja FELIZ
e cultive a
PAZ PROFUNDA

(Autora: Eneide Pompiani de Moura)





domingo, 25 de setembro de 2011

MUDE!


Clarice Lispector






MUDE.
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalça alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente no campo,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas da casa.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado, o novo método,
o novo sabor, o novo jeito,
o novo prazer, o novo amor.
a nova vida.
Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva versos e poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativa.
Grite o mais alto que puder no espaço vazio.
Deixem pensar que voce esta louca.

Aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
A positividade que voce esta sentindo agora.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!!


Clarice Lispector




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Tocando em Frente


Escolhi esta música para marcar a entrada da Primavera 2011

 

 




Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Composição: Almir Sater e Renato Teixeira

Amanhã - 23 de setembro 2011 - INICIO DA PRIMAVERA!


Está chegando a Primavera! O Sol ingressa em Libra
 Escolho a um galho da Arvore de Primavera!


O equinócio de Primavera inicia em 23 de setembro de 2011, às 06h04min (Hora Oficial do Brasil). O Sol está voltando e, com ele, a estação mais alegre, cheia de flores, mais calorzinho e também mais alegria. As vitrines da moda já estão repletas de vestidinhos mais leves, todos floridos e coloridos! Tudo de bom. Astrologicamente (e astronomicamente) o Sol secciona o Equador Celeste no ponto 0º de Libra, e as horas do dia e da noite terão a mesma duração tanto no hemisfério Norte (dando inicio ao Outono) quanto no hemisfério Sul (dando inicio à Primavera). Esse ciclo se repete a cada ano apesar das loucuras do clima que às vezes chega a nos confundir. Acabamos sem saber em que estação estamos! Mas as árvores florescem direitinho, no momento certo: basta olhar os ipês amarelos que acabaram de anunciar o fim do inverno e os jacarandás mimosos que começam a anunciar a chegada da primavera.

O signo de Libra tem como representação uma balança e por essa razão esse signo também tem esse instrumento de medição como símbolo. Dois pratos que estão segurados por um ponto central, também chamado de fiel. O que ele representa? A equidade, o equilíbrio, a razão que nos ajuda a avaliar antes de decidir. Sendo um signo que pertence ao elemento Ar, ele confere aos seus natos a qualidade do pensamento e da sociabilidade.

As constelações foram criadas na antiguidade, conectando pontos brilhantes do céu (estrelas ou planetas) ou seja ‘desenhadas’ sobre a abobada celeste, ou Esfera Celeste, figuras imaginarias que serviam de referência e de orientação para os deslocamentos e longas viagens por terra e por mar. Das 89 constelações existentes somente 12 são tocadas Sol em seu caminho aparente em volta da Terra. Do ponto de vista do habitante da terra, o céu sempre representou um grande mistério e também uma grande fonte de inspiração. E haja imaginação para criar tantas figuras no céu! Certamente que essas figuras mitológicas servem e servirão sempre como arquétipos. E é por essa mesma razão que a astrologia usa essas doze figuras que formam os signos.

O Sol descreve este caminho aparente, chamado de elíptica, e forma um circulo que é chamado pelos astrônomos e astrólogos de Círculo Zodiacal. As doze constelações que estão colocadas no caminho aparente do Sol, por causa do movimento e da inclinação da Terra no seu eixo, não correspondem exatamente aos signos percorridos, porque algumas figuras são maiores, outros menores. Então a astrologia, convencionou que esse círculo fosse dividido em Doze Constelações de 30° cada uma, descartando assim a possibilidade de considerar Ophiucus, ou Ofiocus a 13ª Constelação tocada pelo Sol, já que esse portador de serpente tem somente‘um pé’ na roda zodiacal. Ophiucus era associado na mitologia grega ao Deus Esculápio (ou Asclépius), o Deus da Cura. (Ainda hoje vemos uma serpente em volta de um bastão símbolo da medicina.) Descartado Ophiucus, às doze constelações restantes foram dados 30 graus cada, de forma a que a divisão em Casas permanecesse igual para todas. A primeira constelação, Áries, inicia-se em 20 ou 21 de Março, quando o Sol em seu caminho seciona o Equador Celeste. É neste momento que ainda hoje se convenciona o início da Primavera no hemisfério norte e do Outono no hemisfério sul. Este é chamado de Ponto Vernal, a 0° de Áries. E quando o Sol secciona o Equador a 0º de Libra, acontece o contrário, ou seja, o início da Primavera no Hemisfério Sul e do Outono no Hemisfério Norte.

É importante salientar que o movimento convencional do Sol não acontece sempre com a mesma velocidade (ele passa de um mínimo de 0º57’59 a um máximo de 1º0’51) e por essa razão o ingresso do Sol num determinado signo não acontece sempre na mesma data todos os anos. O calendário Gregoriano, usado no ocidente nos dias atuais, é impreciso e não corresponde exatamente ao passo do Sol. Esta é a razão pela qual seja o Mapa Natal que a Revolução Solar de uma pessoa (que é calculada para o momento em que o Sol retorna ao mesmo grau do nascimento) precisam ser calculados de forma exata por um astrólogo profissional. Esse ano o Sol ingressa em Libra às 06h04 no Brasil. No ano passado, por exemplo, ele havia ingressado às 0h09min.

Mas voltemos à Primavera, após essa breve lição de astrologia!
O Signo de Libra é relacionado com o elemento Ar e é considerado um signo de beleza sendo regido pelo planeta Vênus. Vênus era a Deusa do Amor e da Beleza na mitologia e por essa razão os librianos são refinados, belos, adoram as artes e se preocupam principalmente com o lado social da vida, com os relacionamentos humanos e costumam interagir na sociedade onde vivem. A representação da Vênus de Libra é parecida com aquela figura quadro da Vênus do pintor renascentista italiano Botticelli: uma Vênus que sai das águas, dentro de uma concha. No mito de Prosérpina (Perséfone) que representa o arquétipo do renascimento da natureza na Primavera lembramos a belíssima filha de Geia, Prosérpina, eu foi roubada por Hades (Plutão na mitologia romana).

O Senhor das escuridão e da morte, rapta Prosépina e a leva para a sua moradia, nos infernos, nas entranhas da terra. A mãe de Prosérpina, Ceres (Deusa da Terra e da agricultura) desesperada com a perda da amada filha, perde o vigor, entristece, e parece morrer não produzindo frutos. Com esse arquétipo os antigos explicavam o ciclo do inverno no Hemisfério Norte, quando a terra fica fria, gelada sob a neve, as arvore ficam sem folhas e parecem morrer. Cansada de chorar, Ceres pede a Plutão que deixe sua filha voltar para ela, mas Plutão ama Prosérpina e não quer deixá-la partir. No entanto, após muita negociação e a intercessão dos outros deuses, ele concorda em devolvê-la para a sua mãe pelo menos durante seis meses por ano, mas exige que durante os outros seis meses ela permaneça com ele no inferno. Desta forma e para festejar o retorno de Prosérpina, a mãe Ceres se veste novamente com suas melhores flores, pede às árvores que se enfeitem, aos pássaros que cantem, e inicia um novo ciclo de renascimento e de felicidade. Este mito serve para nos mostrar como funciona o ciclo das estações do ano e da renovação da vida.

No Brasil, esse ciclo das estações é menos marcantes, pelo menos nos estados do norte e nordeste, no entanto, aqui no sudeste e no sul podemos sentir essa renovação no ar. Por essa razão podemos igualmente iniciar um processo de renovação em nossa vida. Aproveitando a energia de Libra podemos iniciar uma reflexão sobre como julgamos nosso vizinho, nosso amigo ou nosso parceiro. É o momento ideal para estreitar os laços com aqueles que amamos.

Se estivermos vivendo em conflito, ou se temos assuntos pendentes com nossos entes queridos, colegas ou chefes, podemos aproveitar este momento especial para começar a negociar, fazer acordos, dialogar e encontrar uma solução para que ambas as partes acabem se satisfazendo. Se houver uma troca sincera de afeto e não existirem mentiras ou subterfúgios conseguiremos construir um relacionamento solido, que irá perdurar no tempo. Essa energia é necessária para buscarmos a sociabilidade, a igualdade e a justiça. Olhar os dois lados da questão, pesar os prós e contras, nos ajudará também a ver o outro lado, a ceder um pouco e a compreender que nossa razão pode não ser a única.

Podemos também aproveitar para fazer uma faxina em nossos armários, doando as roupas que não queremos mais, jogando fora o velho para dar lugar ao novo, limpando a casa da energia estagnada. Coloque flores num vaso, ligue uma pequena fonte de água e se puder pinte sua casa ou seu quarto com uma cor pastel! Essa energia primaveril irá renovar a sua vida.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Poema da borboleta

autor: João Leonard





Ato Filosófico: Acerca do Perdão e Lei do Talião

Ato Filosófico: Acerca do Perdão e Lei do Talião: Esse link te permite assistir a um vídeo de 2 minutos acerca da questão da lei do talião e do perdão. Ele foi sugerido pelo aluno Carlos de ...

Ato Filosófico: Sobre o Perdão

Ato Filosófico: Sobre o Perdão: O tema do perdão parece por demais religioso e muitas vezes perdoar pode parecer o mesmo que ser conivente com uma injustiça. Falar de não-v...

Ceticismo em Kant?


                   





Lalande afirma que há um certo ceticismo em Kant, fazendo uma ressalva que não quanto ao valor objetivo dos fenômenos e das leis da natureza que, pelo contrário, ele quis estabelecer contra Hume, mas quanto ao valor, pelo menos simbólico, dos postulados da razão prática.

                  Para Kant é claro que Deus e a vida futura não tem, tal como os representantes, senão um valor subjetivo, não são uma satisfação, a única possível segundo a nossa faculdade de conhecer, dada a certas necessidades do nosso pensamento especulativo (teologia física) ou da nossa consciência moral (teologia moral, na Crítica do juízo); o que já faz algo totalmente diferente de ilusões. Mas corresponderá esta representação a alguma coisa, ou não corresponde a nada? Poderia haver, uma direita e uma esquerda kantiana (J. Lachelier)

                    A observação sobre o sentido inglês da palavra ceticismo, enquanto aplicada especialmente a filosofia de Hume, foi-nos comunicada por H. Wildon Carr.


Referencia Bibliográfica
Lalande, A. Vocabulários técnicos e críticos da filosofia. Ed. Martins Fontes. 3.a ed. 1999. 1336 p.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sócrates - Raízes Gnosiológicas do Problema do Ensino


(texto da conferência - março 2000 - na Fac. de Educação da USP para o curso de doutorado:"A Educação para as virtudes na Tradição Ocidental")



Gilda Naécia Maciel de Barros
Fac. Educação da Universidade de São Paulo



Sócrates, uma das figuras mais referidas da história da cultura ocidental, é, também, uma das mais complexas e, literalmente falando, desconhecidas. A razão é simples: ele nada escreveu acerca do que fez ou pensou. E o que fez e pensou exerceu um impacto devastador na vida das pessoas que o freqüentaram e da comunidade na qual vivia.

A reação à sua poderosa personalidade e o impacto provocado por sua conduta e pensamento podem ser medidos por fatos. A democrática Atenas, onde os homens se gabavam de ter a ‘língua livre’, que não se cansava de alardear doçura, tolerância, magnanimidade para com estrangeiros, suplicantes e escravos, viu nele um inimigo do povo e um agente de corrupção dos jovens, acusando-o de subverter práticas consagradas pela mais cara tradição cívica. Em 399 a.C. três cidadãos moveram contra ele uma ação pública (graphé), enquadrando-o como ímpio.

A terra do ‘franco falar’ (parrhesía), julgando procedente a acusação, reconhecia nele a figura do homem mau, que é preciso combater, punir e, sobretudo, segregar, para que a sua influência seja extirpada da vida social. Dessa perspectiva, Sócrates passa a incorporar as características contrárias ao modelo do herói cívico, responsável pela proteção da comunidade, e por ela valorizado; agora, marcado com o sinal contrário, torna-se para todos um perigo.

Por outro lado, como que a compensar essa reação comunitária hostil – Atenas atingiu-o pela ação do tribunal popular –, desenvolveu-se após a sua morte um fenômeno espiritual de grande importância.
Aquele impacto a que nos referimos teve o seu lado positivo, e Sócrates, a sua louvação. Isso veio a traduzir-se na consolidação de um tipo de influência espiritual multifacetada, que se costuma designar pelo nome de socratismo. De fato, de seu convívio partilharam pessoas de condição social, objetivos e interesses variados e, por vezes, até contrários; após a sua morte algumas dessas pessoas se agruparam em orientações espirituais diferentes, apenas em alguns pontos coincidentes, às quais não negavam a poderosa ascendência socrática. Podem ser lembrados, aqui, alguns líderes e suas escolas, como o grande Platão (Atenas) e a Academia, Aristipo (Cirene) e os cirenaicos, Diógenes e os cínicos, Euclides (Megara) e os megáricos, entre outros. Todas essas correntes dariam, na fase helenística da cultura antiga, resultados significativos, pelo débito a elas devido por algumas das orientações filosóficas mais importantes daquele período.

Como se pode concluir, Sócrates é um ponto de referência incontornável na história da civilização ocidental. Falou-se dele, falar-se-á sempre dele. Alguns aproximam-no do filósofo, outros, do mártir, outros, do herói, outros, ainda, do grande mestre.

O "grande mestre" tem sido a opção preferida dos filósofos e dos educadores. Esses últimos, com muito orgulho, gostam de lembrar o hábil inquiridor, que finge tudo ignorar para tudo demolir, e investir, a seguir, desonerado dos julgamentos precipitados, na construção do saber, legitimado pela participação do interlocutor. Nesse grupo de admiradores, que sublinham sua condição de "maiêutico", infiltraram-se alguns admiradores vigorosos que se apressam em identificá-lo com o homem que inventou um grande método de ensino.

Este texto pretende discutir o sentido e a propriedade dessa associação de Sócrates com o problema do ensino, mais precisamente, com a questão dos meios no ensino. Em nossa interpretação Sócrates é "maiêutico", sim, mas esse "ser/agir maiêutico" se apresenta como "epistêmico" nos fundamentos e "didático" nos resultados. Ou, para ser fiel ao sentido mesmo da língua grega antiga, é preciso recuperar o sentido "gnosiológico" do termo "didático", e repensar sua vinculação originária com o problema da constituição do conhecimento, em sua dimensão lógica e conceitual, ou, se se quiser, em sua correspondência ôntica também.

Em educação, as teorias vão e vêm, as experiências se sucedem, mas, por vezes, algumas idéias permanecem e algumas experiências resistem, ainda que de forma parcial, a novas práticas. Se é discutível falar em "progressos" pedagógicos, não é arriscado considerar que, como saldo de tantas discussões e ensaios sobre educação, é possível, ao final desse inventário histórico, considerar, de forma otimista, alguns "ganhos".

Ora, a valorização socrática da autonomia do aluno faz parte desse "ganho" e nem se cogita, aqui, de pôr isso em discussão. Todavia, as idéias e práticas têm sua vinculação histórica; ao longo do tempo esse vínculo vai perdendo a sua força, enfraquecido por uma certo tipo de "apropriação" quase que fatal, operada por força de uma utilização espontânea, adaptativa, do meio cultural a que serve.

Nossa reflexão vai em direção ao passado, revitalizar precisamente o sentido original dessa "maiêutica", não para negar-lhe todas as implicações metodológicas que se tem procurado dela depreender, mas, antes, para redimensionar essas implicações à luz do momento histórico de sua gênese, ou seja, dentro de seu contexto intelectual.

Dessa perspectiva, o "atuar maiêutico" desqualifica-se como simples emprego processual de um recurso pedagógico, a que, em suas origens, ele está longe de reduzir-se, e nos porá bem na frente de um problema de fundo, vinculado a uma investigação acerca da natureza do saber. Ora, deslocado para este lado, a questão do método a que se associa a grande contribuição de Sócrates vem a ganhar uma outra configuração, que só podemos compreender nos quadros de uma história cultural. Em outras palavras, se há uma questão de método a que se pode ligar a figura de Sócrates, essa questão enraizava-se em domínios que ultrapassam a referência a meios, ou técnicas, e vincula-se a uma pesquisa sobre os fundamentos e os fins em educação.

O Sócrates maiêutico acabará por nos colocar em um emaranhado conceitual, obrigando-nos a considerar separadamente o "instruir" e o "educar", numa posição filosófica nova, que realça a importância do princípio do "ensinar educando".

Assim, importa então um recuo histórico, para colocar Sócrates dentro de seu tempo, em confronto com sua herança cultural.

Mas, como vamos alcançá-lo se não há acordo entre os helenistas acerca de sua pessoa e de seu pensamento? Nossa referência vai ser o Sócrates maiêutico, aquele mesmo a quem se reservou um lugar na história da educação e na filosofia da educação, o filósofo e o mestre, ou, se se quiser, o "mestre filósofo". Nesses termos, os críticos em geral nos remetem ao Sócrates platônico. Mais precisamente, ao Sócrates platônico dos primeiros diálogos, os chamados diálogos "aporéticos". Que diálogos são esses e quem é esse Sócrates, como se apresenta?

Os "aporéticos" são os primeiros diálogos platônicos, que se supõe terem sido compostos ainda sob o impacto da morte do mestre, ou sob a poderosa e mais recente influência da pessoa dele. Referem-se a pesquisas acerca da perfeição humana, mais precisamente da qualidades que a integram, de sua natureza e das condições de sua aprendizagem. Em geral esses diálogos não chegam a uma solução acerca do conceito investigado, seja ele a coragem (Lakhes), a piedade (Eutífron), a temperança (Cármides), a beleza (Hípias Maior), como também, sobre a possibilidade de essas qualidades serem alcançadas por meio do ensino (Protágoras, Mênon). Dizem-se aporéticos devido ao tipo de desfecho da trama dialógica, desenvolvida com grande habilidade argumentativa da parte de Sócrates; este, após ter exposto a falsa ciência do interlocutor (ironia e refutação), coloca-o em posição adequada para reiniciar a investigação, uma vez que foram eliminados os conceitos pré-estabelecidos acerca do tema que se quer conhecer.

Sócrates, a figura central dos diálogos platônicos em geral e desses de que tratamos em especial, é um homem da cidade antiga, sem dúvida, mas, por sua conduta, está acima e adiante de seu tempo. Trata-se de uma pessoa em tudo diferente. Fisicamente forte, mas de semblante sem beleza, com aparência de um sátiro. Psicologicamente arguto, controlado em suas emoções, resistente às intempéries da natureza, à dor, ao sofrimento e aos prazeres em geral. Indiferente aos enigmas da natureza, extremamente sociável e interessado na vida na cidade, nos problemas humanos relativos ao agir. Extremamente hábil no interrogar e refutar, rodeado, sempre, de amigos, discípulos ou ouvintes, submete essa habilidade a uma pesquisa antropológica de cunho ético. E o instrumento dessa pesquisa é o diálogo, que pratica invariavelmente, todo dia, em círculos fechados, de jovens quase sempre bem nascidos e ricos, ambiciosos e ávidos por ocupar um posto importante na política, ou em círculos abertos, em princípio para o homem comum, que circula ou trabalha na praça da cidade.

Até Sócrates, duas tradições culturais sustentaram o desenvolvimento espiritual dos gregos: a dos poetas e legisladores, de um lado, e a dos pesquisadores naturalistas, de outro. Aquela exercia sua influência de forma mais ampla, por intermédio da poesia, épica ou lírica, e da lei; esta aplicava-se a um círculo mais restrito de associados, os "companheiros", "concidadãos" ou "discípulos", que gravitam em torno do sábio que os lidera. Sócrates vai interessar-se sobretudo pelo exame crítico da primeira, o que enquadra sua reflexão no campo da ética, da política e da educação.

Se quisermos conhecer o tipo humano que aparece como ideal dessa cultura, tão presente na tradição literária, temos que considerar a importância que os gregos davam à aparência e ao caráter. O homem em sua plenitude (areté) deve ser belo (kalós) e de valor (agathós). Esse homem belo é sempre, nas origens, uma criatura de estirpe, um nobre. Conhece os refinamentos da vida elegante, sabe receber, é experimentado nos jogos e se sobressai em todas as circunstâncias, na assembléia ou no conselho, na qualidade de orador; no combate também, exibindo técnica e coragem diante do inimigo. Alcançar a kalokagathia, isto é, corpo e espírito excelentes, eis, de forma resumida, o supremo bem.

Quando Sócrates emerge no cenário grego, essa tradição vai ser questionada. Atenas é uma "cidade-escola". Centro cultural da mais alta importância, caminho obrigatório de passagem ou de estadia das figuras mais brilhantes daquela época. Pólo irradiador do saber, para onde poetas, adivinhos, retóricos, professores de eloqüência, declamadores, pesquisadores da natureza, intelectuais de toda espécie afluem, circulando pela ágora; ali, a fina flor da juventude freqüenta ilustres estrangeiros, discute sobre todos os temas e questiona, racionalmente, os fundamentos da vida religiosa, social, familiar, política. Atenas tem poder – ela governa um império, e lidera a Grécia, sustentando seu brilho com os recursos dos aliados, que protege do perigo persa e animada pelo vigor do regime democrático. Quando Sócrates, ao final da vida, é julgado e condenado por um tribunal popular, Atenas, esgotada à exaustão, perdera a Guerra do Peloponeso, e, com ela, o império marítimo que a consagrara, sob o governo de Péricles, como líder da Grécia; esforçava-se por superar as conseqüências políticas de dois golpes oligárquicos (411 e 403 a.C.), lutando por manter a paz e, com ela, internamente, a democracia, regime político restaurado ao qual associava a sua glória, e que, agora, cabia preservar.

Foi dentro desse quadro cultural e político que emergiu, cresceu, se impôs e brilhou a figura de Sócrates. Essa Atenas clássica conheceu todo o poder da atuação de sábios racionalistas, críticos implacáveis da tradição em todos os sentidos, extremamente hábeis, alguns deles, em desenvolver e ensinar técnicas de comunicação, que os jovens, futuros líderes da cidade, viriam a aplicar com perícia, visando ao êxito nas assembléias populares e no Conselho.

Sacudido pelos novos ventos, "iluminado" pelo implacável exercício crítico de sábios ambulantes, aquele ideal de excelência física e moral está em crise. O teatro cômico não vai perder a oportunidade de explorar o confronto entre os valores antigos e os novos, que acarretam mudanças notáveis e radicais na educação. A ilustração desse confronto pode ser acompanhada com proveito pela leitura de "As Nuvens", cujo autor, Aristófanes, não poupa talento em expor o choque de gerações e a radicalidade da atuação dos intelectuais contemporâneos.

Como Sócrates se situa diante desse quadro? Em que contexto e motivado por que preocupações ele irá agir, notabilizando-se pelo uso de uma tekhné investigativa, que depois se iria rotular de "método socrático"?

Como os sofistas, com os quais atua nesse cenário, Sócrates gosta de interrogar, partilha, até certo ponto, uma erística, uma arte de discutir. Mas os sofistas gostam de longos discursos, não sabem ou não gostam de fazer perguntas curtas e diretas, usam e abusam de comentários do mito, da poesia. Sócrates quer que tudo isso seja evitado, em benefício do diálogo direto, simples e conciso. Não é esse o testemunho do "Protágoras", com toda aquela magnífica "mise-en-scène" em que Sócrates ameaça abandonar a discussão?

Ele sabe propor as perguntas, mas, sobretudo, sabe encaminhar a discussão e refutar. Por isso é surpreendente sua dialética. Esse agón, essa disputa é, sobretudo, ágil e dura. Visa a bater no opositor e fazê-lo pôr-se em retirada. Não porque se proponha a ganhar sempre toda causa, ainda que fraca. A refutação, para ele, opera analogicamente ao fármaco bem aplicado, e promove uma purga, e, como lembra Mondolfo, essa purificação é que prepara o espírito para o conhecimento. Mas, o que vem a ser, precisamente, este "conhecimento"? Chegamos, aqui, ao ponto central dessa questão relativa ao "atuar maiêutico".

Até Sócrates – e também depois dele – , a educação grega usou e abusou do recurso ao modelo. Desde Homero, até de forma inconsciente, toda a formação do homem grego dependerá, em sua inspiração nuclear, de referência a "exemplaridades". Haverá manifestações em sentido contrário ou diferente, mas à pedagogia da "imitação" se destinava uma longa vida.

Sócrates rompe com toda essa tradição, embora, curiosamente, ele próprio seja um produto da velha escola, aquela que "formou os heróis de Maratona". Haja vista a referência, em mais de uma fonte, a feitos heróicos por ocasião de eventos militares (Delos, Potidéia). Mas com ele, questionado, o paradigma não suporta a inspeção crítica da razão. O modelo de coragem (Lakhes), o modelo de piedade (Eutífrone), o modelo de temperança (Cármides), que preenchem os requisitos tradicionais a respeito dessas qualidades, mostram-se inconsistentes, todos eles, sucumbindo à laboriosa e astuta dialética socrática. Ainda mais uma vez, paradoxalmente, respeitando a convicção grega de que a lei consigna a justiça e nesta estão reunidos todos os valores cívicos, o mesmo Sócrates, que duvida da capacidade política do cidadão ateniense comum para bem votar as leis da polis, é quem, em obediência à idéia comum de excelência, aprovada por essa mesma maioria cuja competência vem de questionar, vai desafiar a assembléia ensandecida, no julgamento dos generais da batalha das Arginusas, empenhado em fazer cumprir as leis. Apesar de opor sérias dúvidas ao processo (democrático) pelo qual foram estabelecidas.

Mas, voltemos ao ideal paidêutico da kalokagathia. Em que condições os modelos presos, de alguma forma, a esse ideal foram confrontados, rejeitados ou reformulados?

Olhar o homem como uma unidade superior à soma do corpo e do espírito vai implicar, para Sócrates, uma reformulação estética de alcance inestimável. A beleza física, tão importante desde a épica, preserva seu valor, mas submetido a uma abrangência, que é o homem por inteiro. Dentro dessa perspectiva, o belo corpo, a ação corajosa, associados, com uma certa regularidade, às exibições atléticas e esportivas, aos feitos heróicos de guerra, são repensados em função de uma idéia de homem mais elaborada. É preciso considerar o homem na sua totalidade, o que se encaixa numa filosofia educativa que subordina a ação humana a uma reflexão sobre a vida e a qualidade da vida. Alcançar a vida boa, viver bem, transforma-se, com Sócrates, em um projeto filosófico do mais alto alcance, com muito claras implicações de ordem educativa. Daí a importância de se determinar que bens devem ser eleitos como dignos de serem buscados e de que males fugir. Ora, como conhecer e determinar essa tábua de bens - refiram-se eles à saúde, à honra, ao poder, à riqueza, à glória - e como direcionar a conduta para a sua realização, no plano individual e coletivo? Qual a chave para a vida feliz?

Cabe considerar, aqui, a postura que faz, no caso de Sócrates, a diferença. Alcançar os fins últimos que garantem a felicidade é uma tarefa de conhecimento, sobretudo. Para agir é preciso, em primeiro lugar, saber. E o saber autêntico tem a força de gerar a ação legítima. Ninguém procura o mal, mas pode fazê-lo, se ignora o que é o bem. Qualquer ação humana é uma ação radicada na valorização da felicidade e do prazer. Apenas a ignorância (desconhecimento) pode explicar a falha que desencadeia prejuízo e desgraça.

Alcançar a felicidade é uma outra forma de alcançar a excelência, e esta não pode ser praticada sem antes ser conhecida. Mas como chegar ao conhecimento dessa perfeição, que é o nosso bem? Como tornar essa posse duradoura? E que sinal poderá assegurar-nos de sua permanência? Haverá alguém que conheça ou possa indicar o caminho para ela?

Inapelavelmente somos tentados a chamar aqui a figura do educador. Haverá professores de areté? Que condição essencial reclama a possibilidade de a excelência ser objeto de ensino? Seria ela, na verdade, objeto de ensino? Ora, essa possibilidade introduz aqui o parentesco da questão do "atuar maiêutico" com o "saber maiêutico". A areté pode ser ensinada se ela for ensinável, isto é, cognoscível (didaktón), o que a aproxima da ciência. Nessa hipótese, a ciência que nos permite alcançá-la tem que ser constituída de uma certa forma, aquela mesma, "maiêutica", que leva a alma a parir um produto concebido e gestado dentro dela, por força da ação "magistral" (hoje diríamos, socrática) do "mestre".

Até Sócrates e os sofistas, a preocupação dos filósofos gregos esteve comprometida sobretudo com a investigação da natureza física, com algumas incursões pelo campo da política e da moral. Quando Parmênides, naquele belo poema sobre o Ser, faz advertências sobre os dois caminhos e louva a sorte daquele que é conduzido pelas divindades aos palácios da "Verdade bem estabelecida", em momento algum a necessidade de saber escolher o caminho gera qualquer dúvida sobre o objeto da busca, o conhecimento do Ser. Apenas "mortais de duplas cabeças" se desviam. Os agraciados chegam até o coração da verdade bem redonda. O pensado é o existente e todo o ser é pensamento. Heráclito mesmo, com sua dialética dos contrários, com sua oposição entre o "caminho para baixo" e o "caminho para cima", recorre ao final a um logos unificador que dá consistência e sentido ao conjunto de um aparente conflito. Sócrates contracena com pensadores que se ocupam dessa herança naturalista e fazem, de forma jocosa ou séria, a crítica dela. Górgias e Protágoras estabelecem referências importantes para a elaboração de uma teoria do conhecimento humano na qual a participação do sujeito ou o processo mesmo de apreensão do objeto passam a receber uma consideração crítica que a filosofia, depois deles, não mais vai poder desconsiderar. Por sua vez, Sócrates aprofunda essa consideração e vai contemplar o sujeito mesmo do conhecimento, em seu processo mental, que passa a ser contado como fator ativo na constituição do saber e na compreensão do erro. Se ele se ocupou em distinguir o pensamento do ser, ou se simplesmente disso não se ocupou, não pode ser resolvido ou tratado aqui, mas foi ele, sem dúvida, quem desenvolveu um trabalho teórico (e prático) de estabelecimento de uma disciplina mental indispensável a uma ciência moral com pretensão de validez universal. A forma pela qual aplicou sua capacidade dialética levou-o a elevar a erística a uma atuação muito mais produtiva e fecunda, comparativamente aos efeitos do trabalho dos sofistas nesse campo; foi em razão desse esforço que se pôde configurar, pela primeira vez, a cadeia que movimenta o pensamento; ele nos ensinou que essa trama tem uma lógica, e que, para garantir a adequada comunicação entre os homens e, conseqüentemente, a possibilidade de legitimar o ensino, é necessário partilhar dessa técnica, para a constituição da qual ele foi o primeiro a contribuir de forma insuperável.

A areté pode ser cognoscível e, por isso, pode ser ensinada (didaktón). Mas é porque sua natureza participa da ciência que isto é compreensível. Enquanto ciência, deve, contudo, iluminar a vida. A coerência entre saber e agir se impõe, porque, se for diferente, haverá uma ruptura dentro do homem e seus passos serão desencontrados, como os de um cego sem amparo. A razão é o fator crítico que possibilita o discernimento e favorece a escolha da tábua de bens hábeis em levar-nos ao encontro da felicidade.

E o mestre? Ele só pode operar como um braço auxiliar da razão, que, uma vez ativada, traz em si o princípio que a faz produzir, isto é, conhecer. Interferir nesse processo, colocando na alma do outro um saber que não nasceu ali é uma opção pelo fracasso. Ele não promove a conversão, ele não opera o ‘milagre’ que levar a agir. Ou, se o fizer, a conduta assim provocada terá a qualidade das imitações, e bastará uma circunstância negativa para desviá-la de seu verdadeiro fim. Tal como ocorre com estátuas de Dédalo, "saberes" transplantados têm a leveza das plantas que não têm raízes. Apenas o encadeamento promovido dialeticamente pela razão pode aprofundá-los, e consolidando-os, torná-los fixos.

Sócrates procurou, sim, um método para a condução da alma ao seu verdadeiro bem, mas pôde estabelecê-lo na circunstância precisa em que procurou primeiro o conhecimento do homem e da terapia apropriada para levá-lo a alcançar o que, em seu entender, deviam ser os seus verdadeiros fins.

Referencia bibliografica: http://www.hottopos.com.br/rih3/gildsocr.htm

Ceticismo Relativo

(autora: Eneide Pompiani de Moura)






                    O Ceticismo Relativo consiste em NEGAR APENAS PARCIOALMENTE nossa capacidade de conhecer a verdade, ou seja, apresenta uma posição moderada em relação às possibilidades de conhecimento, comparada ao ceticismo absoludo apresentado por mim na postagem anterior.

                     Entre as doutrinas que manifestaram um ceticismo relativo temos: o SUBJETIVISMO, RELATIVISMO,PROBABILISMO e o PRAGMATISMO.


                      No SUBJETIVISMO ele considera o conhecimento uma relação puramente subjetiva e pessoal entre o sujeito e a realidade percebida. O conhecimento limita-se as idéias e representações elaboradas pelo sujeito pensante, sendo impossivel alcançar a objetividade.
O subjetivo nasce com o pensamento do grego PROTÁGORA, sofista do sec. V a.C., que dizia que o homem é a medida de todas as coisas, ou seja, a verdade é uma construção humana, ela não está nas coisas.

                         No RELATIVISMO entende que não existem verdades absolutas, mas apenas verdades relativas, que tem uma validade limitada a um certo tempo, a um determinado espaço social, em fim, a um contexto histórico.


                        No PROBABILISMO propõe que nosso conhecimento é incapaz de atinger a certeza plena. O que podemos alcançar é uma verdade provavel. Essa probabilidade pode ser digna de maior ou menor credibilidade, mas nunca chegará ao nivel da certeza completa, da verdade absoluta.

EM MINHA OPINIÃO hoje a medicina "baseada em evidencia" usa do ceticismo probabilistico para orientar-nos (nos os médicos) dos procedimentos médicos a serem seguidos frente a uma patologia (doença) em nossos pacientes. Por isso, costuma-se dizer no meio médico que hoje o procedimento é assim... mais poderá ser mudado se os estudos probabilísticos nos provarem que outro procedimento é mais eficaz para determinada patologia estabelecida.

                       No PRAGMATISMO propõe uma concepção dos homens como seres práticos, ativos e não apenas como seres pensantes. Por isso, abandonam a pretensão de alcançar a verdade, entendida como a correspondencia entre o pensamento e a realidade. Para o pragmatismo, o conceito de verdade deve ser outro: verdadeiro é aquilo que é UTIL, que DÁ CERTO, que serve aos interesses das pessoas na sua vida prática. Nesse sentido, a verdade não seria correspondencia do pensamento com o objto, mas a correspondencia do pensamento com o objetivo a ser atingido.

Em minha opinião o Ceticismo Relativo pragmático também tem a ver com os objetivos gerais do exercicio médico que é fazer com que o tratamento instituido dê certo, logo seja útil em sua proposta de cura que levará a um objetivo e interesse da pessoa/paciente para a melhora do seu estado de saude. Logo quando um paciente está doente tem-se como objetivo a sua cura.

Assim a medicina atualmente ela tem as duas correntes presentes no CETICISMO RELATIVO: a corrente probabilistica e pragmática.


Autora: Eneide Pompiani de Moura


Referencia bibliografica

Cotrim G. Fundamentos da Filosofia. Historia e grandes temas. Ed Saraiva, 16.a ed reformulada e ampliada. 2006. 303 p.


Paz profunda
Eneide

CETICISMO ABSOLUTO

(Autora: Eneide Pompiani de Moura)



                     O Ceticismo absoluto onde tudo é ilusório, representado por Górgia (485 a.C.) o pai do ceticismo absoluto. Ele afirma que: “ O ser não existe; se existisse não poderíamos conhece-lo; e se pudéssemos conhece-lo, não poderiamos comunica-lo aos outros”, esta afirmação, em minha opinião, é o oposto proposto por Descarte com sua famosa frase: “penso, logo existo.”


               Pirro (365 – 275 a.C.) fundador do ceticismo absoluto afirma ser impossível ao homem conhecer a verdade devido a duas fontes principais de erro: os Sentidos e a Razão. Em minha opinião, o oposto proposto por Platão.


                 Segundo Pirro os nossos conhecimentos são provenientes dos sentidos, mas estes não são dignos de confiança por poderem induzir ao erro. E no tocante a Razão, para Pirro as diferentes e contraditórias opiniões manifestadas pelas pessoas sobre os mesmos assuntos revelam os limites de nossa inteligência sendo por isso impossível alcançarmos a certeza de qualquer coisa.

Concluindo: O ceticismo absoluto nega totalmente nossa possibilidade de conhecer a verdade. Por isso, parte do pressuposto que o homem nada pode afirmar por nada poder conhecer com total certeza.

Autora: Eneide Pompiani de Moura




Referencia bibliográfica:

Cotrim G. Fundamentos da Filosofia. Historia e grandes temas. Ed Saraiva, 16.a ed reformulada e ampliada. 2006. 303 p.


domingo, 18 de setembro de 2011

Até que ponto podemos considerar a Maieitica Socrática como cética?







***OBS - estes comentários são pessoais (de Eneide Pompiani de Moura).


Resposta: Depende!


                     Gostaria de lembrar que a Dialética socrática tem dois focos: primeiro uma preocupação com ética e educativa que leva a exortação à virtude (postura não cética) e a segunda o interesse pela lógica ou gnoseológico. 

                A Dialética socrática tem três características: o não saber socrático, a ironia socrática e a maiêutica. Assim sob o ponto de vista da palavra cética que significa observar, investigar, a dialética socrática assume este aspecto. 


             Também quanto a postura cética que exige uma equipolência: todos os pólos acabam se equivalendo, por isso não posso tender mais para um lado do que para outro é o que se observa o que se enquadraria na 1.a fase do pensar dialético socrático do O não saber socrático e na 3.a fase do pensar dialético socrático na maiêutica.


               Lembrando que o não saber socrático é o caminho encontrado por Sócrates para a abertura ao diálogo. Com esta postura Sócrates faz uma descontrução da physis – que pretendia conhecer as leis do cosmo; dos sofistas – que acreditavam ter o saber ilimitado e o dogmatismo do senso comum.


         A maiêutica é uma técnica usada por Sócrates para o desmonte do saber estabelecido, despojando-se de suas verdades, o interlocutor sai de seu dogmatismo próprio do senso comum e se estabelece no campo da dúvida,lugar próprio ao nascimento do verdadeiro conhecimento.


           A 2.a fase da Dialética Socrática é que tenho dúvidas se ela é cética. Isto por que, segundo Hunnex, o ceticismo nega a possibilidade tanto do conhecimento como um todo quanto da apreensão imediata das coisas como tais. Em vez disso o ceticismo dá ênfase à importância das percepções particulares. Partindo deste pressuposto a ironia socrática que é uma técnica usada por Sócrates para dar oportunidade ao interlocutor de entrar num diálogo raciocinado com ele (Sócrates). Com este método Sócrates acredita ter encontrado o caminho para o Homem seguir a verdade o que foge ao pensamento cético.


           Se a ironia socrática faz suscitar discussões levando a por em cheque o senso comum numa desconstrução e conduzindo a novas construções de verdades ou novos conhecimentos, isto vai contra o pensamento cético.

Autora: Eneide Pompiani de Moura

Referencia bibliografica
Cotrim G. Fundamentos da Filosofia. Historia e grandes temas. Ed Saraiva, 16.a ed reformulada e ampliada. 2006. 303 p.


sábado, 17 de setembro de 2011

“Todas as ciências são mais importantes do que essa, mas nenhuma lhe é superior.” (Aristóteles)



Autora: Eneide Pompiani de Moura
 A proposta deste texto é discutir a frase de Aristóteles: 
 “Todas as ciências são mais importantes do que essa,

mas nenhuma lhe é superior.”

 (Aristóteles)


                    Aristóteles (1), pensador da Antiguidade Clássica grega realizou uma extensa e profunda síntese das teorias desenvolvidas naquele período atuando como, filosofo, historiador das idéias e dos valores de sua época através de uma criteriosa sistematização através da criação da lógica formal e organizando e dividindo em áreas específicas do conhecimento. 


        Fundou a escola Liceu, onde apresentou uma nova visão de mundo, que ficou demarcada através de suas obras como: A Política (onde demonstra que a sociabilidade seria uma das características essenciais dos seres humanos); Ética a Nicômaco (onde coloca como objetivo principal à busca do homem pela felicidade; o que só poderia se realizar no plano social e na luta pela consolidação da cidadania), na Metafísica onde concebe o desejo de conhecimento como uma característica definidora, intrínseca e natural relativamente a todos os seres humanos (1), Órganon (obras relacionadas com a lógica), Arte Poética (pedagogia da arte particularmente no teatro trágico) (4).


    Aristóteles partia de textos filosóficos de outros autores, particularmente de Platão e Parmênides, expondo as suas principais idéias de forma crítica. (1)


              Em sua obra Metafísica (3), Aristóteles afirmou que “o desejo de conhecer é próprio e natural no Homem” e que “a filosofia nunca nasce das ciências nem pela ciência. Também jamais se poderá equipará-la às ciências. É lhes antes anteposta, e não apenas logicamente ou no quadro do sistema das ciências. A filosofia se situa num domínio e num plano da existência inteiramente diverso, na mesma dimensão da filosofia e de seu modo de pensar situa-se apenas a poesia. Entretanto, pensar e poetar não são, por sua vez, coisas iguais”.

            Aristóteles (5) distingue seis formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele, nosso conhecimento vai sendo formado enriquecido por acumulação das informações trazidas por todos os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles. Em cada uma das seis formas ou graus de conhecimento temos acesso a um aspecto do Ser ou da realidade e, na intuição intelectual, temos o conhecimento pleno e total da realidade ou dos princípios da realidade plena e total que Aristóteles chamou de “O Ser enquanto Ser”.


Há muito tempo os filósofos procuram elaborar uma classificação geral das ciências, mais por que isto é tão difícil ainda nos dias de hoje? Simplesmente por que há inúmeras variáveis dando possibilidade a inúmeras questões como: O que é exatamente o conhecimento científico?

Qual a extensão deste conhecimento? Qual a sua relação com os outros tipos de conhecimento? Resposta: Dependendo de como as questões sejam encaminhadas, surge um tipo de classificação das ciências.



Segundo Aristóteles, a finalidade básica das ciências seria desvendar أ constituição essencial dos seres, procurando defini-la em termos reais. Ao abordar a realidade, reconhecia a multiplicidade dos seres percebidos pelos sentidos. Assim, tudo o que vemos, pegamos, ouvimos e sentimos é aceito como elemento da realidade sensível. Para Aristóteles, a observação da realidade leva-nos à constatação da existência de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são captados pelos nossos sentidos (realidade sensorial). Assim, é a partir da existência do ser é que devemos atingir sua essência, através de um processo de  conhecimento que caminha do individual e especifico para o universal e genérico levando ao método indutivo. (7)    

              
 Aristóteles divide a ciência em três grupos básicos:


a) O das ciências Teóricas: que tinha por objetivo o conhecimento puro e racional do mundo. Por exemplo: Física, Matemática, Biologia etc.

b) O das ciências Práticas: que tinha por objetivo o conhecimento de princípios fundamentais a serem aplicados no comportamento social e intelectual do homem. Por exemplo: Moral, Política e Lógica.


c) Na Poética: Aristóteles estabeleça as características e os fins da tragédia. Estabelece para o teatro as regras das três unidade: ação, tempo e lugar.

            A Metafísica de Aristóteles segundo interpretação de Giovanni Reale, nos livros Aristóteles: Metafísica e Historia da filosofia Antiga, vol II (2); Reale esclarece que ao dizer ciência quer se referir a uma atitude ativa de investigação, assim, Reale apresenta a Metafísica de Aristóteles como ciência através de quatro definições: 
- como ciência das causas e princípios supremos
- como ciência do ser enquanto ser.
- como ciência da substancia.
- como ciência de Deus e da substancia supra-sensível.



A Metafísica como ciência das causas e princípios supremos tem como característica a sua universalidade, por que para ser causa precisa ser material, com um formato ou forma (ter uma estética física estática), ser eficiente ou motora (no sentido de poder se transformar e levar ao movimento) e ter uma finalidade (é o devir para qual todas as coisas tendem – é o primeiro Motor onde toda causa final tende).


A Metafísica como ciência das causas e princípios supremos é a filosofia primeira que investiga as causas e os princípios (ou causas) primeiros e últimos. Os princípios (arqué) ou causas (aitía) primeiros é a razão para uma coisa ser o que é ( com todas as características que citei acima). Os últimos princípios ou causas é a busca de toda realidade fundando o ente em sua totalidade. Aristoteles diz: “Deus é supremo e o ultimo principio” – metafísica como ciência divina).


A Metafísica como ciência do ser enquanto ser – uma ontologia – (estudo do ser). Para Aristóteles é a pesquisa das causas e princípios últimos do ser como uma totalidade mais de muitos modos e não univocamente. Em sendo muitos eles se unificam na substancia. Assim é na multiplicidade estrutural dos diversos sentidos do ser que está a ciência do ser enquanto ser que se unifica na substancia que é a totalidade do ser.


A Metafísica como ciência da substancia, onde a substancia (ousia) é o principio ou causa unificadora de todos os sentidos. O ser tem múltiplos significados mais é unificada na substancia – princípios/causas supremas da substancia.Assim Ser e Substancia são a mesma coisa. Aristóteles defende que a Substancia pode ser tudo: a substancia sensível (Sócrates) como supra-sensível (Platão).


            Em minha interpretação, a Metafísica de Aristóteles como ciência das causas e princípios supremos – a substancia poderá assumir três características: Forma (morphé, eidos) onde alem das características físicas há simultaneamente a essência intima das coisas (por exemplo: uma flor tem a sua forma de flor mais também a sua essência de planta em sua alma vegetativa. Matéria que é aquela que se revela como parte constituinte das coisas concretas; substancia das coisas com certos limites físicos (que é a forma da matéria). Aristóteles conclui que todas as coisas são composições – sínolo – de matéria e forma concretas ou simplesmente substancias (ousia).


A Metafísica como ciência de Deus e da substancia supra-sensível – teologia – ou coisas divinas, onde Deus é a essência, causa e princípio último de todas as coisas e realidades. Em Aristóteles Deus é o grau supremo, o fundamento e princípio de toda a realidade conhecida por ser a substancia primeira supra-sensível eterna. Deus, para Aristóteles é uma substancia separada, imóvel (Motor Imóvel), eterna e transcendente ao sensível. O primeiro Motor de Aristóteles é a causa final, pois todos os entes se movem em sua direção (Deus) afim de imitar a sua perfeição.


As partes da metafísica identificadas por Reale como características da metafísica de Aristóteles foi uma forma didática que Reale encontrou para que tentássemos entender os paradigmas Aristotélicos. Em minha opinião são quatro as formas de interpretar a mesma ciência metafísica ocorrem simultaneamente embora sob enfoques diferentes. Assim quando me refiro a metafísica como ciência das causas e princípios ou filosofia primeira também estou falando do ser enquanto ser, da substancia e de Deus.


Quando Reale nos aponta para a particularidade da multiplicidade do Ser em seus múltiplos significados, Reale esclarece que na verdade a "soma" desta multiplicidade dá "origem" a substancia. Aristóteles abarca o conhecimento Platônico e Socrático sugerindo que o mundo sensível e supra-sensível são na verdade manifestações em "dimensões" ou entendimento diferentes.


            Concordo com Russel (9) quando afirma que “a filosofia deve ser estudada não com o objetivo de se chegar a alguma resposta definitiva às suas questões, já que nenhuma resposta definitiva pode, como regra, ser reconhecida como verdadeira. Ela deve ser estudada em virtude das próprias questões, pois essas questões ampliam nossa concepção do que seja possível, enriquecem nossa imaginação intelectual e diminuem as certezas dogmáticas que fecham nossa mente a especulação. Mas, sobretudo, ela deve ser estudada por que, graças à grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também é engrandecida e se torna capaz daquela união com o universo que constitui o mais alto dos bens”.


Reale (4) destaca um ponto em comum entre Platão e Aristóteles quanto o ato de filosofar, sugerindo a sua importância frente às outras ciências: “De fato, os homens começaram a filosofar, agora como na origem, por causa da admiração, na medida em que, inicialmente, ficavam perplexos diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo pouco a pouco chegam a enfrentar problemas sempre maiores, por exemplo, os problemas relativos aos fenômenos da lua, do sol e dos astros, ou os problemas relativos a todo o universo”.


            Ao que parece, hoje, a ciência moderna busca o conhecimento com o fim de dominação não só das leis naturais como ao seu semelhante. Em oposição a este pensar está a filosofia que busca refletir a realidade, não para subjugá-la ou ser um meio de controle ao próximo mais como uma forma libertadora a serviço do bem comum.


            A filosofia deve ser entendida como um modo particular de buscar, compreender de forma racional, sistemática e rigorosa tudo o que existe. Por isso, filosofar é indagar-se sistematicamente sobre as questões fundamentais do existir.  Embora, em alguns momentos, nos pareça que outras ciências são mais importantes do que a filosofia sua relevância está justamente na sua revelação do inexato, no déficit, na defasagem no modo de colocar-se no mundo e em si mesmo, o ser vivente racional. É neste ponto de vista da singularidade da Filosofia frente aos outras ciências que ela se mostra superior.


A Filosofia causa, no homem, incomodo em sua tendência de acomodação. A filosofia não busca substituir a ação das ciências, mas, ao contrário, quer subsidia-las e enriquece-las sob a forma de planejamento e reflexão. A filosofia sabe que o melhor alcance do homem será sempre imperfeito e provisório, justamente o oposto proposto pelas outras ciências que tentam a todo preço desvalorizar o ato de filosofar.


            É no Ato de Filosofar que a Filosofia se diferenciar das outras ciências, mesmo que elas sejam tidas como superiores, é no inicio do espanto, ou com o maravilhar-se, com aquela sensação de estranhamento, que é produzida a partir do momento em que nos deparamos com algo novo, que não compreendemos (que seria o chamado conflito cognitivo), nos leva a questionar a maneira habitual e corriqueira com a qual vínhamos pensando e vivendo até o presente momento e que por este ato de filosofar é percebido como singular com novo significado (1). O que mais tarde Merleau-Ponty vai definir a filosofia como “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.


            Diria que é na Filosofia que nos é possibilitado o exercício de nossa humanidade através da reflexão crítica com propriedade sobre os vários caminhos já trilhados no passado, os que estão sendo trilhados no presente e o que podemos esperar para o futuro. É nesta visão holística do Ser que é possível buscar novas e melhores formas de nos relacionarmos com os outros seres humanos não importando em qual sociedade esteja inserido o homem nos seus modelos de crenças, valores e culturas. 


            Acredito que a filosofia tenha como característica uma certa forma, em sua singularidade, de compreender o nosso mundo. A filosofia busca superar os preconceitos e aparência da realidade onde a importância está na essência dos fenômenos. O conhecimento filosófico é dinâmico por isso não deve ser considerado como uma expressão de verdade absoluta. 


            O verdadeiro filósofo, como a exemplo de Aristóteles, busca ultrapassar o saber de sua época indo ao encontro do desconhecido. Pelo seu potencial de critica, a filosofia poderá ser considerada ou desconsiderada perigosa pelo poder estabelecido que prefere manipular a massa a faze-la auto-crítica.


Na atualidade, Panikkar (8) é um exemplo concreto da importância da filosofia frente às outras ciências, onde através de seu ato de filosofar afirma que: “Ninguém, individual ou coletivamente, tem uma visão nem controle do conjunto da experiência humana, e menos ainda de toda realidade”. 


Panikkar defende, o que ele chama de “Pluralismo”, que além de haver respostas diferentes, as perguntas são mutuamente incomensuráveis, por que nenhum homem é um "respondedor" das perguntas dadas, mas sim um "perguntador". Panikkar ainda afirma que “a autocompreensão pertence à própria natureza humana. Em todo julgamento, em toda afirmação, há uma certa pretensão de validez.” Ficando assim demonstrado a importância da Filosofia frente às outras ciências nos dias de hoje.


Assim, reafirmando o que já foi dito anteriormente, para responder as questões: Como metafísica tende realizar qual fim? Para que serve a metafísica? A metafísica é, para Aristóteles, a mais nobre das ciências porque é a ciência dos fundamentos de toda a realidade; ela não serve para nada de particular. A Filosofia/Metafísica não é uma ciência prática, que visa resolver problemas imediatos e empíricos. A metafísica nasce do estupor que o filósofo sente diante do ser das coisas, nasce do amor do saber pelo simples desejo de saber. E é justamente nesse saber que o ser humano entra em contato com Deus, que é pensamento de pensamento. Nesse sentido, o filósofo, enquanto reflete e pensa sobre o pensamento de pensamento, alcança a plena realização do seu ser; e assim é o mais feliz dos humanos. Por isso, ele pode dizer que “todas as outras ciências são mais necessárias que esta, mas nenhuma lhe será superior” (Metafísica A 2, 983 a 10 s), porque, nela e com ela, o ser humano realiza, de modo pleno, sua natureza racional (9).


“ O Ser se exprime de muitos modos,
mas nenhum modo exprime o Ser.
O Ser se diz em vários sentidos.”




(Aristóteles)

Autora: Eneide Pompiani de Moura

Referencia bibliográfica:
1.      Andrade JH. Filosofia. 1.a edição. Ed. Poliedro.  2010, 176 p.
2.      Apostila Pós-graduação Filosofia e Existência 2011 da Universidade Católica de Brasilia - UEA 01 – O modo de conceber e fazer Filosofia de alguns pensadores gregos. 76 p.
3.      Aristóteles. Metafísica. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão. RJ: Tempo Brasileiro, 1969, p. 59.
4.      Aristóteles. Metafísica. Texto grego com tradução ao lado de Giovanni Reale. São Paulo: Loyola, 2002. A, 2, 982 b, 12).
5.      Chauí M. Filosofia. 1.a ed. Ed Atica. 2007. 231 p.
6.      Cotrim G. Fundamentos da Filosofia para uma geração consciente. Ed Saraiva – 3.a ed. 1988. 224 p.
7.      Cotrim G. Fundamentos da Filosofia. Historia e Grandes temas. 6.a ed.  Ed. Saraiva. 2007. 304 p.
8.      Panikkar R. O Espírito da Política – Homo Politicus. Tradução de Mercês Rocha. Ed. Triom. 2005. 225 p.
9.      Russel, B. Historia do pensamento ocidental. Trad. Laura Alves e Aurélio Rebello. RJ: Ediouro, 2003 il. (Clássicos de outro ilustrados). 13 p.