Texto de Eneide Pompiani de Moura referente ao fórum de discussão sobre “O Lugar do Homem na Cultura Grega” da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência - Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo, coordenado pelo Prof Vicente Sergio Brasil Fernandes (março/2012).
Falar do homem sobre si mesmo é falar do homem sobre a humanidade que se apresenta nas seguintes formulações: Quem somos? Por que existimos? Por que buscamos o sentido das coisas?
Em nosso dia-a-dia são muitos os momentos e situações em que o(s) questionamento(s) sobre o ser humano e o sentido de sua existência pode(m) aparecer, onde várias respostas podem ser apresentadas. Uma resposta em particular será diferente se for formulada de forma generalizada – este é o foco da antropologia filosófica - que vai buscar as respostas para a existência da humanidade e aí nos incluímos como partes de um todo maior.
Portanto, as respostas também podem ser várias e diferentes dependendo do foco de sua pergunta. Assim, encontramos respostas sobre o homem na ciência – biologia, sociologia, história, economia, psicologia etc... – e, também, na Filosofia Antropológica.
Karl Jaspers nos diz que “quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade”.
Refletindo sobre: O sentido da palavra cultura para o homem grego, considerando que é nesta que ele tentará fundar um processo de individualização.
A cultura para o homem grego pode ser entendida como a totalidade das manifestações e formas de vida que permite a caracterização de um povo, pois, através da apreensão da cultura como princípio formativo, que o povo grego, considerou a totalidade de sua obra originária em relação a outros povos. É a partir deste pensamento grego que serviu como fonte de todo o impulso criador do mundo ocidental, instaurando os sentidos para a existência do homem. Este homem que passa a ocupar um lugar de destaque na cultura.
A identidade de um povo se manifesta na cultura, isto é, suas realizações que o torna peculiar. O destaque é dado ao homem com criador desta mesma cultura. A cultura não é um dado exterior ou soberano, mas é um “produto” do agir do homem. Na sua individualidade o homem cria, pensamentos, ações e linguagem que formam a cultura que é também o lugar da realização comunitária. Portanto, nota-se que apesar do homem encontrar a sustentabilidade no comunitário (o indivíduo põem-se ao serviço da Polis), o individual não fica ofuscado.
A cultura passa a ser a própria existência do homem, que coloca em questão o seu eu individualizado: todo o modo de ser do homem é um questionamento. Ao fazermos isso, inauguramos uma nova linguagem, uma nova forma de compreensão do mundo ou do próprio homem que o habita.
Questionar é próprio do homem. O homem não se contenta só com existir por existir. Não quer só o estar aí. Todo o seu viver constitui um contínuo questionamento na procura do sentido do seu existir como ser. Talvez, para o homem, o questionar seja uma aspiração para ultrapassar a sua finitude e buscar outras formas de existências. É próprio do homem não aceitar ser “aprisionado” numa estruturas não dinâmicas, como que exilado do próprio ser. Por isso, questionar liberta o homem das amarras do destino permitindo-lhe reinventar-ser continuamente.
Todas as questões são colocadas na forma de diálogo como uma característica fundamental da existencia do homem, livrando o homem das amarras da própria existência. Ao dialogar, o homem coloca o seu pensamento ao olhar crítico do outro e vice-versa. Por isso é que, para o Platão, o homem é essencialmente diálogo, pois por este meio, ele ultrapassa todas as formas de esquematização analítica.
Platão entende que, por um lado, o diálogo revela a necessidade da comunicação, isto é, agir sobre e em direção do outro; e, por outro, o diálogo indica uma maneira bastante original de ser homem, pois todos vivem em sociedade. Sendo assim, o homem é ação e é, por isso mesmo, também político.
É através do diálogo que o homem relega a si mesmo não se justificando como também não se identificando. É preciso seguir em busca de novas fundamentações que possibilitem uma nova postura. A resposta encontrada pelo homem está na vida social mais universal e mais ampla que a dimensão familiar.
Apesar do homem possuir uma grande vontade de se reconhecer como indivíduo, o homem não pode fazer o caminho unicamente sozinho, pois perderia a sua identidade como ser em comunidade. Quer queira, quer não, o homem realiza-se entre as comunidades dos homens.
A vida política permite ao homem grego encontrar a sua razão maior de ser no mundo. Esse bem estar gerado pelo encontro com a essência humana, provoca o aparecimento de leis e normas que permitem uma certa segurança nesse estilo de vida, nas diferentes expressões da cultura.
O controle da vida do homem em sociedade, num primeiro momento, se fez através da religião e da família. Com o amadurecimento da polis há a edificação de leis universais que favorecessem a vida social. É a partir do entendimento de polis que aparece o sentido da existência do homem grego. Dentre outras questões, a geração de novas estruturas existenciais se tornam possíveis quando o homem se percebe como individuo e como ser político. Posteriormente, as novas estruturas da pólis permitiram ao homem que se unisse a outros homens e a outros grupos.Ampliando-se as possibilidades de estruturas que dão sentido a existência humana.
autora: Eneide Pompiani de Moura
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