quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Noção de DESVELAMENTO no pensamento grego.

Resumo de Eneide Pompiani de Moura
do texo original da Disciplina "O modo de conceber e fazer filosofia de alguns pensadores medievas".
Curso de Pós-Graduação em Filosofia da Existencia
 Universidade Católica de Brasilia - 2011

O pensamento grego organizou-se a partir da noção de desvelamento.

Segundo os gregos, o conhecimento é um caminho ascencional,
no fim do qual o
filósofo, talcomo o místico, 
“deve conseguir contemplar a verdade face a face e acabar por se
identificar com a própria divindade”
(Brun, 1991, 106). 
Em Platão e Aristóteles
É o homem que se eleva para Deus e o faz sem necessidade de
nenhum intermediário. 
No cristianismo, ao contrário, a transcendência de Deus é constantemente mantida. 
Trata-se do Deus escondido.
Não é o homem que sobe em direção a Deus, 
mas é Deus que desce para o homem,
por meio da Revelação 
que nada tem a ver com o desvelamento do entendimento grego.

Há igualmente duas concepções diferentes de Amor. 
De Platão a Plotino, 
o amor é o desejo que se liga às qualidades do indivíduo, 
como efêmero e inconsciente depositário. 
Na obra de Platão "O Banquete"
é dito que amamos alguém por sua beleza ou inteligência;
esse amor abole a distância entre Deus e o homem. 
O eros grego, deste modo, não tem nada a ver com o ágape cristão, 
pois o eros é essencialmente desencarnado, visto que não se dirige à pessoa, mas só às qualidades que essa possui. 
No cristianismo, ao contrário, diz Brun, amar não tem nada a ver com o desejo pelo qual
Deus move o mundo (como o Primeiro Motor de Aristóteles), pois Deus se despoja de si mesmo a
ponto de fazer-se homem.   Deus liga-se à própria pessoa e sua condição trágica. 
Ágape, grego,  é um amor gratuito, um amor dádiva.

Na filosofia grega fala-se de indivíduos que fazem parte de um Todo
e ficam à disposição deste Todo ou Natureza que engloba as causas e efeitos, ou da cidade ou destino que os submete a suas leis. 
No cristianismo, ao contrário, se fala das pessoas. 
Kierkegaard acentua que no cristianismo a Pessoa está num plano superior à espécie (a parábola do bom pastor revela bem isso). 
A pessoa é sagrada, imagem de Deus. 
Essa mesma oposição pode ser estendida ao corpo helenista e à carne cristã.

A filosofia do helenismo é filosofia da imanência 
que se enraíza no ‘conhece-te a ti mesmo’ de Sócrates. 
É em si próprio que o homem pode encontrar as raízes do conhecimento 
que o leva até o supremo desvelamento. 
É por isso que Plotino diz que a salvação 
já está presente no interior da alma humana, 
bastando que se tome consciência disso. 
O conhecimento de ti mesmo remete
à reminiscência que permite anular a queda e restituir à alma as asas que havia perdido.

No cristianismo, pelo contrário, o que encontramos em nós são apenas trevas. 
O homem procura Deus, mas é Deus que encontra o homem caído. 
A Revelação e a graça trazem uma luz 
que ele é incapaz de desvendar por suas próprias forças.

De Sócrates a Plotino estamos diante de uma filosofia intelectualista da salvação. 
Sócrates não se cansa de repetir:
‘ninguém é mau voluntariamente’; 
para Sócrates, o mau só se afasta do bem porque o ignora. 
Recusa qualquer idéia de mal radical. 
Para os gregos não há forças misteriosas do mal.  
Para os cristãos, em contrapartida, o mal é algo radical e misterioso, pois faço o mal que
não quero, como dizia São Paulo.

Em conclusão, no helenismo a verdade está no homem
se ele a esqueceu, pode reencontrá-la
com suas próprias forças. 
Para o cristianismo, contudo, há, de um lado, 
a proximidade do homem à verdade, 
pois foi criado à imagem de Deus; 
e, de outro,
uma distância do homem à mesma,
por causa da queda do pecado original. 
Essas forças antagônicas 
o homem sozinho não pode vencer; 
a salvação só é possível pela graça. 
Não se fala, no cristianismo, 
nem de conhecimento
nem de iniciação aos mistérios; 
fala-se do Mediador que é Redentor.


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