domingo, 20 de maio de 2012

A leitura do texto Filosófico – Parte I


             


Texto de Eneide Pompiani de Moura sobre o tema “Em que a leitura do texto filosófico se difere das demais leituras.” baseado no fórum de discussão da disciplina "Metodologia de Pesquisa em Filosofia" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência - Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo, coordenado pelo Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes (maio/2012).

              Os textos filosóficos podem ser elaborados segundo algumas categorias de análise que nos levam a condições de possibilidade ou de impossibilidade da leitura de uma obra filosófica (como afirma o filósofo Wittgenstein).
           
            As obras filosóficas constroem uma teoria geral do conhecimento, do sentido e da linguagem constituindo-se a Hermenêutica (que é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação).

            A leitura de um texto filosófico requer aprendizagem reflexiva. 

            Um texto filosófico visa a universalidade ou a generalização de seu ponto de vista. Para conseguir isso, a filosofia busca apagar as marcas de sua particularidade mesmo evidenciada pela história.

            Um texto propriamente filosófico tem como característica os mecanismos e funções gerais que determinam, mesmo com a diversidade dos gêneros, das teses, dos modos de exposição. Os mecanismos e funções gerais, da filosofia vem da tripla exigência: ordem da descoberta, ordem lógica (ordem das “razões”) e ordem da exposição. 

            É importante percebermos que cada filosofia resolve de modo diverso esse problema de organização. Na medida em que cada uma deve resolvê-lo, podemos construir uma tipologia das formas de resolução. Em cada fragmento, reencontraremos sempre uma dosagem entre conceitos, metáforas e argumentos. As operações que os articulam são também reveláveis.

            Concluindo, todo texto filosófico tenta mediatizar a relação do particular ao universal, e o que torna as filosofias contraditórias é o que as aproxima. É a própria filosofia que valida sua própria possibilidade enunciativa.

            Um texto filosófico é um conjunto complexo estratificado e folheado encadeado numa linearidade (tempo e escrita) apresentando cada momento em desenvolvimento. Por isso, o texto filosófico (dedutivo ou aforismo) é um conjunto móvel por um movimento interno (para explicações e análises) necessitando a decifração da estruturação global e da dinâmica textual. Trata-se de explicitar as regras de funcionamento que ligam os conceitos, as proposições, as argumentações, seja a partir das indicações, pistas, proposições explicitadas no próprio texto por seu autor, seja do exterior, quando nós mesmos fazemos com que esses diferentes parâmetros variem.

            Para se ler um texto filosófico é necessário buscar os traços explícitos ou disfarçados de um referente tanto exterior quanto interior que se dá como “autor” do texto . Agrupando-os, é como se pudéssemos traçar o retrato negativo do filósofo estudado, analisando a sombra projetada que o trabalho da escrita vai deixando à medida que progride.

            Para se compreender um texto filosófico é necessário se fazer um estudo interno, destacar as operações pelas quais o texto constrói uma referência às dimensões biográficas e institucionais, ou se constrói através dessas referências.

            É sempre bom reforçar que um texto filosófico raramente nos oferece respostas prontas a usar, não passa muitas vezes, do nível das interrogações, o que não quer dizer que a filosofia seja, apenas, um estar a caminho ou uma disciplina em que as perguntas são mais importantes do que as respostas, por muito que afirmações como estas agradem a professores e estudantes. 

            Cremos que um texto dá forçosamente soluções a este ou aquele problema. Como poderíamos saber o que um filósofo pensa se ele tivesse limitado a fazer perguntas? A história das ideias dá-nos, pois, informações precisas quanto ao pensamento dos diversos filósofos. É evidente que não são os detentores da verdade: há, apenas, que salientar que a filosofia não é só uma procura do saber, é também um saber, e que a sua história é este movimento da pergunta à resposta e novamente à pergunta.
 
            Fundamental, em filosofia, é a compreensão dos problemas, ou seja, o compreender porque são problemas. Sem esta perspectiva inicial, muitos textos se tornam mais que incompreensíveis: não fazem, para o estudante, qualquer sentido.

            Ao ler um texto filosófico, como em qualquer  outro texto, é essencial a atitude que se tem parente ele. 

            Os estudantes de filosofia muitas vezes se  impacientam com a diversidade dos pontos de vista, com o caráter provisório das respostas, demonstrando uma grande ansiedade por respostas eficazes e absolutas. 

            Esta impaciência é compreensível, e pode ser fecunda, num momento adequado.
            O estudante de filosofia deve ter uma postura, em primeiro lugar, o leitor deve deixar que o texto “fale” com ele, ouvindo-o com atenção e cuidado. 

            É frequente discordamos de um autor por precipitação, por não termos compreendido nem o que ele diz, nem o problema que procura expor e/ ou resolver; deste mal-entendido nascem atitudes de recusa infundadas, que fecham portas a diálogos que podem ser úteis. 

            Veja, não é preciso assumir uma postura passiva frente a um texto filosófico, mas sim que se leia, sempre que possível, sem preconceitos, mas também sem medo de levantar questões e de duvidar do que se lê. 

Depois de uma adequada postura  à leitura de um texto filosófico procura-se compreender porque diz o autor aquilo que diz, tentando compreender as suas razões e argumentos. Pense-se que em tudo há uma parte de verdade e que, conhecendo várias opiniões ( já que é impossível conhecer tudo), lhe será mais fácil criar uma opinião sua.

            A leitura de um texto filosófico deve  permitir que tomemos consciência de um certo problema, novo ou já passado, ou de um problema sentido por nós, dar-nos algumas ideias acerca de como foi tratado e resolvido por outros e, finalmente, despertar o desejo de escrevermos o nosso próprio texto, respondendo assim ao autor do texto filosófico que estamos a analisar. Fazendo isso, estaremos criando um diálogo entre o texto filosófico e daquele que o analisa passando assim a também a escrever o próprio texto filosófico.

Autora: Eneide Pompiani de Moura

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