quinta-feira, 22 de março de 2012

Simone Weil: Meditação sobre a obediência e a liberdade




Texto de Eneide Pompiani de Moura referente ao Grupo de estudo Filosofia e Política da Universidade Católica de Brasília – Pólo São Paulo – Coordenado pela Profa. Rochelle Cisne Frota D Abreu.  (março/2012).



Este texto é baseado no artigo:
Simone Weil: Meditação sobre a obediência e a liberdade
(trad.: Emília Maria M. de Morais)


Simone WEIL (1909-1943): Meditação sobre a obediência e a liberdade (1937). (Projeto de artigo) In: Oppression et liberté, Paris, Ed. Gallimard, 1955, p. 186-193[1]. Reimpresso em Oeuvres complètes, Écrits historiques et politiques, v. II, t. 2, Paris, Gallimard, 1991, p. 128-133. Tradução e notas de Emilia Maria M. de Morais.

O tema abordado por Simone Weil (1937)
ainda é uma realidade nos nossos tempos infelizmente.

            Segundo a autora, Simone Weil, o homem é um simples fragmento da natureza (mundo material) por existir nele a vontade, a inteligência e a fé ( que seria o homem espiritual)

            A submissão leva a obediência cega chegando ao extremo de risco de morte.

            O conhecimento do mundo material se desenvolveu à partir de Galileu com a noção de força. Foi à partir daí deste conceito que a organização do meio material pela indústria pode ser empreendido o mesmo acontecendo com o meio social. No meio social o desenvolvimento foi a aplicação do conceito de força através da “noção de força social”.
            No Maxismo a chave para o enigma social está na economia. A partir do entendimento maxista que considera uma sociedade como um ser coletivo que precisa ser entendido em suas necessidades básicas de vida, onde o indivíduo não pode ser definido pelas modalidades de produção.
            Diz Weil: “A guerra é a destriuição e não produção”.

            A obediencia e o comando são fenômenos dos quais as condições de produção não dão conta.
            A noção de força (e não a noção de necessidade), constitui a chave que permite ler os fenômenos sociais.

            O estudo do mecanismo social é complexo por se encontrar em todos e em cada um. De um lado há a massa obediente/subjulgada sob o comando de poucos, que querem conservar a ordem/hierarquia com seus privilégios (sob o subjulgado/obediente). Do outro lado, se faz uma apelo as massas para saírem do comodismo para outras possibilidades.

            O obediência cega da maioria das massas pode chegar ao ponto do sofrimento e morte enquanto um pequeno número de pessoas (possuidoras de um conjunto de força) estão no comando mesmo sendo a minoria social.

            A massa obediente não consegue formar um conjunto de força por isso se submetem aquele que pelo conjunto (embora sendo a minoria) tem maior força que a massa.

            A potencia de uma minoria (possuidora do conjunto de força) tem uma ação maior sobre os submissos (que são fracos – sem força de conjunto) que os obedece por essa coesão de força.

            Entretanto, como diz Weil: “Não se pode estabelecer a coesão se não entre uma pequena quantidade de homens”.

            A dominação no controle social se faz quando se desenvolve entre os oprimidos/obedientes/submissos cegos com o sentimento de impotência e inferioridade por sua natureza humana. Os dominadores se sentem mais fortalecidos e superiores quando conseguem o intento desejado sobre o outro na dominação massificada.

            Para Weil, a formula do “mal menor”, embora desacreditada pelo socialdemocratas, seria a única alternativa aplicável para o controle do mecanismo social.

            A ordem social, embora necessária é essencialmente má, pois, num extremo leva a efeitos de humilhação aos dominados/submissos/obedientes/oprimidos não lhes dando espaço para qualquer manifestação de suas virtudes, são sufocados pela coerção dos dominadores que não querem sair desta posição de poder sobre o outro.


Minhas considerações finais:
É importante sabermos nos posicionar
Quanto a realidade que nos cerca.
O comodismo,
A massificação,
Talvés seja o caminho mais fácil
Para aceitarmos a condição política que vivemos HOJE!
MAS...
Podemos SER e FAZER a diferença
Buscando a ação
para o EQUILIBRIO
De Forças.

A PAZ É A RESPOSTA!

(autora: Eneide Pompiani de Moura)






Texto original


Simone Weil: Meditação sobre a obediência e a liberdade
(trad.: Emília Maria M. de Morais)


Simone WEIL (1909-1943): Meditação sobre a obediência e a liberdade (1937). (Projeto de artigo) In: Oppression et liberté, Paris, Ed. Gallimard, 1955, p. 186-193[1]. Reimpresso em Oeuvres complètes, Écrits historiques et politiques, v. II, t. 2, Paris, Gallimard, 1991, p. 128-133. Tradução e notas de Emilia Maria M. de Morais.



A submissão do maior número ao menor, esse fato fundamental de quase toda organização social, não deixa de assombrar todos os que refletem um pouco. Na natureza, observamos os pesos mais pesados prevalecerem sobre os menos pesados, as raças mais prolíficas sobrepujarem as outras. Entre os homens, essas relações tão claras parecem invertidas. Decerto, sabemos por uma experiência cotidiana que o homem não é um simples fragmento da natureza e o que nele existe de mais elevado - a vontade, a inteligência, a fé – produz todos os dias espécies de milagre. Mas não é disso que se trata aqui. A necessidade impiedosa que manteve e mantém de joelhos massas de escravos, massas de pobres, massas de subordinados, nada tem de espiritual; ela é análoga a tudo o que existe de brutal na natureza. Como se, na balança social, o grama excedesse o quilo.


Há quase quatro séculos, La Boétie, no seu Contra-um, colocava a questão[2]. Ele não a respondeu. Sobre quantas ilustrações comoventes poderíamos apoiar seu pequeno livro, nós, que vemos em um país que cobre a sexta parte do globo, um único homem sangrar toda uma geração[3]. É quando inflige a morte, que o milagre da obediência salta aos olhos. Que muitos homens se submetam a um só por medo de serem mortos por ele, é bastante espantoso; mas que eles permaneçam submissos a ponto de morrer sob suas ordens, como compreendê-lo? Quando a obediência acarreta tantos riscos quanto a rebelião, como ela se mantém?


O conhecimento do mundo material no qual vivemos pôde se desenvolver a partir do momento em que Florença, depois de tantas maravilhas, trouxe à humanidade por intermédio de Galileu a noção de força. Foi somente então, que a organização do meio material pela indústria pôde ser empreendida. E nós que pretendemos organizar o meio social, dele não possuiremos sequer o conhecimento mais grosseiro enquanto não tivermos concebido claramente a noção de força social[4]. A sociedade não pode ter seus engenheiros enquanto não tiver seu Galileu. Existe neste momento, sobre toda face da terra, um espírito que conceba, mesmo vagamente, como é possível que um homem no Kremlin tenha a possibilidade de fazer rolar qualquer cabeça nos limites das fronteiras russas?


Os marxistas não facilitaram uma visão clara do problema ao escolher a economia como chave do enigma social. Se se considera uma sociedade como um ser coletivo, então esse grande animal[5], como todos os animais, define-se principalmente pelo modo como se assegura a nutrição, o sono, a proteção contra as intempéries, em resumo, a vida. Mas a sociedade considerada em sua relação com o indivíduo não pode se definir simplesmente pelas modalidades da produção. Por mais que se recorra a toda espécie de sutilezas para fazer da guerra um fenômeno essencialmente econômico, salta aos olhos que a guerra é destruição e não produção.  A obediência e o comando são também fenômenos dos quais as condições de produção não são suficientes para dar conta. Quando um velho operário sem trabalho e sem assistência perece silenciosamente na rua ou em um casebre, essa submissão que se estende até a morte não pode ser explicada pelo jogo das necessidades vitais. A destruição massiva do trigo, do café, durante a crise é um exemplo não menos claro. A noção de força, e não a noção de necessidade, constitui a chave que permite ler os fenômenos sociais[6].


Galileu não teve de se louvar, pessoalmente, por ter decifrado a natureza com tanto gênio e probidade; pelo menos ele se chocava apenas com um punhado de homens, poderosos especialistas na interpretação das Escrituras. O estudo do mecanismo social é entravado por paixões que se encontram em todos e em cada um. Não existe quase ninguém que não queira seja subverter, seja conservar as relações atuais de comando e de submissão.   Um desejo e o outro colocam uma névoa diante do olhar do espírito, e impedem de perceber as lições da história que mostram por todo lado as massas sob o jugo e alguns erguendo o açoite.


Uns, do lado que faz apelo às massas, querem mostrar que essa situação é não somente iníqua, mas também impossível, ao menos para um futuro próximo ou longínquo. Os outros, do lado que deseja conservar a ordem e os privilégios, querem mostrar que o jugo pesa pouco, ou que ele é mesmo consentido. Dos dois lados, lança-se um véu sobre o absurdo radical do mecanismo social, em vez de enxergar de frente esse absurdo aparente e analisá-lo para encontrar nele o segredo da máquina. Em qualquer domínio que seja, não existe outro método para refletir. O espanto é o pai da sabedoria, dizia Platão.


Visto que o grande número obedece, e obedece até deixar-se impor o sofrimento e a morte, enquanto o pequeno número comanda, não é verdade que a maioria seja uma força. O número, apesar do que a imaginação nos leva a crer, é uma fraqueza. A fraqueza está do lado onde se tem fome, onde se está esgotado, onde se suplica, onde se treme, não do lado onde se vive bem, onde se concedem favores, onde se ameaça. O povo não está submisso apesar de ser a maioria,  mas porque é a maioria. Se na rua um homem se bate contra vinte, sem dúvida, ele será deixado como morto sobre a calçada. Porém, sob um sinal de um homem branco, vinte coolies anamitas [7] podem ser espancados com golpes de chicote, um depois do outro, por um ou dois chefes de equipe.


A contradição, talvez, seja somente aparente. Sem dúvida, em qualquer ocasião, aqueles que ordenam são menos numerosos do que aqueles que obedecem. Mas precisamente porque são poucos numerosos eles formam um conjunto. Os outros, precisamente porque são muito numerosos, são um, mais um, mais um, e assim por diante. Assim a potência de uma ínfima minoria repousa apesar de tudo sobre a força do número.  Essa minoria prevalece muito em número sobre cada um daqueles que compõem o rebanho da maioria.  Não se deve concluir que a organização das massas inverteria a relação, pois ela é impossível. Não se pode estabelecer a coesão senão entre uma pequena quantidade de homens. Para além disso, não há mais que justaposição de indivíduos, quer dizer, fraqueza.


Há, entretanto, momentos em que não é bem assim. A certos momentos da história, um grande alento passa sobre as massas; suas respirações, suas palavras, seus movimentos se confundem. Nada, então, lhes resiste. Os poderosos conhecem enfim, por sua vez, o que é sentir-se só e desarmado. Tácito, em algumas páginas imortais que descrevem uma sedição militar, soube perfeitamente analisar o caso. “O principal signo de um movimento profundo, impossível a apaziguar, é que eles não estavam disseminados ou manobrados por alguns, mas juntos pegavam fogo, juntos se calavam, com tal unanimidade e tal firmeza que se acreditaria que agiam sob comando”. Nós assistimos a um milagre desse gênero em junho de 1936 e a impressão ainda não se apagou[8].


Momentos como esses não duram, se bem que os desgraçados[9] desejem ardentemente vê-los durar para sempre. Eles não podem durar porque essa unanimidade, que se produz no fogo de uma emoção viva e geral, não é compatível com nenhuma ação metódica. Ela sempre tem por efeito suspender toda ação e frear o curso cotidiano da vida. Esse tempo de parada não pode se prolongar; o curso da vida cotidiana deve ser retomado e as tarefas de cada dia realizadas. A massa se dissolve de novo em indivíduos, as lembranças de sua vitória se esfumam; a situação primitiva ou uma situação equivalente restabelece-se pouco a pouco; posto que no intervalo os chefes tenham mudado, são sempre os mesmos que obedecem.


Os poderosos não têm interesse mais vital senão impedir essa cristalização das massas submissas ou, ao menos, como eles não podem sempre impedi-la, torná-la o mais rara possível. Que uma mesma emoção agite, ao mesmo tempo, uma grande quantidade de desgraçados é o que acontece com freqüência pelo curso natural das coisas; mas habitualmente essa emoção apenas despertada é reprimida pelo sentimento de uma irremediável impotência. Manter esse sentimento de impotência é o primeiro artigo de uma política hábil por parte dos senhores.


O espírito humano é incrivelmente flexível, prestes a imitar, prestes a se curvar sob as circunstâncias exteriores. Aquele que obedece, aquele cuja palavra de outrem determina os movimentos, as penas, os prazeres, sente-se inferior, não por acidente, mas por natureza. No outro extremo da escala, sente-se do mesmo modo superior e essas duas ilusões se reforçam uma à outra. É impossível ao espírito mais heroicamente firme guardar consciência de um valor interior, quando essa consciência não se apóia em nada de exterior. O próprio Cristo, quando se viu abandonado por todos, ultrajado, desprezado, sua vida valendo nada, perdeu por um momento o sentimento de sua missão; o que pode querer dizer de diferente o grito: Meu Deus, por que me abandonaste? Aos que obedecem parece que alguma inferioridade misteriosa os predestinou a obedecer por toda a eternidade; e cada marca de desprezo, mesmo ínfima, que eles sofrem da parte de seus superiores ou dos seus iguais, cada ordem que eles recebem, sobretudo cada submissão que eles próprios cumprem, confirma-lhes esse sentimento[10].


Tudo o que contribui para dar àqueles que estão embaixo na escala social o sentimento de que eles têm um valor é, em certa medida, subversivo.  O mito da Rússia soviética é subversivo pelo quanto ele pode dar ao trabalhador de fábrica demitido por seu contramestre o sentimento de que, apesar de tudo, ele tem por trás de si o exército vermelho e Magnitogorsk[11] e, assim, permite-lhe conservar seu amor-próprio. O mito da revolução historicamente inelutável desempenha o mesmo papel, se bem que mais abstrato; já é alguma coisa quando se é miserável que se tenha a história a seu favor. O cristianismo, em seu início, era também perigoso para a ordem. Não inspirava nos pobres a cobiça dos bens e do poder, muito ao contrário; mas dava-lhes o sentimento de um valor interior que os situava sobre o mesmo plano ou mais alto que os ricos, e era o bastante para colocar a hierarquia social em perigo. Bem depressa ele se corrigiu, aprendeu a colocar entre os casamentos, os enterros dos ricos e dos pobres, a diferença que convém e a relegar os últimos lugares das igrejas aos desgraçados.


A força social não se sustenta sem mentira. Tudo o que existe de mais elevado na vida humana, todo esforço de pensamento, todo esforço de amor também é corrosivo para a ordem. O pensamento pode, a justo título, tanto ser descreditado como revolucionário, de um lado, como contra-revolucionário, de outro. Porquanto ele constrói sem cessar uma escala de valores “que não é deste mundo”, é inimigo das forças que dominam a sociedade. Porém, ele não é mais favorável aos propósitos que tendem a subverter ou a transformar a sociedade e que, antes mesmo de ter tido sucesso, devem necessariamente implicar, para aqueles que se voltam à submissão do grande número ao pequeno, o desdém dos privilegiados pelas massas anônimas e a manipulação da mentira. O gênio, o amor, a santidade merecem plenamente o reproche que muitas vezes lhes é feito de tender a destruir o que existe sem nada construir em seu lugar. Quanto àqueles que querem pensar, amar e transpor em toda pureza, na ação política, o que lhes inspira seu espírito e seu coração, eles não podem senão perecer decapitados, abandonados pelos seus, difamados pela história depois de sua morte, como ocorreu com os Gracos[12].


De uma tal situação resulta, para todo homem aficionado ao bem público, um dilaceramento cruel e sem remédio. Participar, mesmo de longe, do jogo das forças que movem a história quase nunca não é possível sem se sujar ou sem se condenar de antemão à derrota. Refugiar-se na indiferença ou numa torre de marfim é também raramente possível sem muita inconsciência. A fórmula do “mal menor”, tão desacreditada pelo uso que dela fizeram os socialdemocratas, permanece, então, a única aplicável, com a condição de aplicá-la com a mais fria lucidez[13].


A ordem social, embora necessária, é essencialmente má, qualquer que seja. Não se pode reprovar àqueles que ela esmaga de sabotarem-na tanto quanto possam; quando se resignam, não é por virtude, ao contrário, é pelo efeito da humilhação que neles apaga as virtudes viris. Não se pode tampouco reprovar aqueles que a organizam por defenderem-na, nem representá-los como formando uma conjuração contra o bem geral. As lutas entre os concidadãos não surgem de uma falta de compreensão ou de boa-vontade; elas pertencem à natureza das coisas e não podem ser apaziguadas, mas somente sufocadas pela coerção. Para quem quer que ame a liberdade, não é desejável que elas desapareçam, mas somente que permaneçam aquém de um certo limite de violência.   



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*Emília Maria M. de Morais - Agradeçe as valiosas sugestões de Leonardo Weber Castor de Lima para a redação final do texto; todas as possíveis falhas não são de sua responsabilidade.


[1] Opressão e liberdade foi publicado no Brasil pela EDUSC, Bauru, trad. de Ilka Stern Coehn, 2001, p. 175-182.  A presente tradução deste artigo, com fins pedagógicos, diverge pouco da anterior e foi motivada sobretudo para que algumas breves notas fossem anexadas ao texto; que sirva como um aperitivo para os leitores adquirirem esse original e valioso livro.
[2] Étienne de la Boétie (1530-1563), escritor francês; em seu Contra-um ou Discurso da servidão voluntária, refletiu sobre o domínio de todo um povo por um tirano. Note-se o paradoxo do título: a servidão, embora não natural, ou seja, histórica e contingente, é qualificada como um ato da vontade de um povo que se apequena, mantendo-se de joelhos diante de seu cruel dominador. Avesso à equidade, incapaz de nutrir todo sentimento real de afeição (amor ou amizade), por sua crueldade, injustiça ou posição de superioridade frente a seus subordinados, o tirano empobrece a si mesmo e poderia ter a seu lado apenas cúmplices, muito dificilmente amigos. Em sua breve vida, la Boétie foi o grande amigo de Montaigne (1533-1592) o qual resumiu o sentimento excepcional que os unira apenas com esta frase lapidar: porque era ele, porque era eu - Ensaios, De l’amitié, livro I, capítulo XXVIII. O texto de la Boétie foi publicado no Brasil, em edição bilíngüe,  pela Brasiliense, em 1987.
[3] A autora se refere a J. Stálin.
[4] É também a partir da noção de força que a autora analisa a poesia de Homero. Cfr. A Ilíada ou o poema da força, in: WEIL, S. A condição operária e outros escritos sobre a opressão. Organização e introdução de Eclea Bosi. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo, Paz e Terra, 1996.
[5] Grande animal é a expressão de que se vale Platão n’ A República (livro VI, 493 a-c) para denominar a formação social. Lembremos também que, no século XVII, T. Hobbes intitulará com o nome do monstro bíblico, Leviatã, seu principal tratado político.
[6] A autora se refere à depressão econômica que, nos anos 30, no século passado, ocasionou a destruição de gêneros de primeira necessidade, tais como o algodão e o trigo, nos EUA; o café no Brasil e o açúcar em Cuba.
[7] Em inglês, no original; trabalhadores ou camponeses da costa leste da Indochina, região do Vietnã atual.
[8] S. Weil evoca o Front Populaire, as greves entre maio-junho de 1936 e o governo socialista, cujo conselho, presidido por Léon Blum, entre 04/06/36 até 21/06/37, contou com o apoio dos três principais partidos de esquerda da França: a SFIO, seção francesa da Internacional operária, que deu origem ao atual PS, o PCF, Partido Comunista, e o Partido Radical Socialista, além de sindicatos, combatentes e intelectuais ligados às forças populares. Simone Weil celebrou a vitória eleitoral da esquerda e os breves tempos de alegria que conferiram dignidade ao proletariado. Em 7 de junho de 1936, duas leis  votadas pelo parlamento instituíram as primeiras  licenças de trabalho remuneradas e a semana de trabalho foi reduzida de 48 para 40 horas. Foi também o primeiro governo francês com a participação direta de mulheres, três ao todo, no secretariado de Estado.
[9] No original: malheureux.
[10] Essas amargas observações concernem ao que a própria Simone Weil não somente observou de muito perto, mas viveu como operária metalúrgica, entre 1934-1935, nas fábricas Alsthom e  Renault.
[11] Cidade da Rússia, na região dos montes Urais, fundada em 1929, onde Stálin mandou construir uma grande fábrica siderúrgica que, por vários anos, foi a maior do mundo. Ali, durante a Segunda Guerra Mundial, empreendeu-se uma intensa produção de tanques de guerra, obuses e balas.  
[12] Tibério e Caio Graco, tribunos romanos das últimas décadas do séc. II a.C, que tentaram reformar as estruturas sociais e políticas de Roma e foram assassinados por seus opositores. Plutarco dedicou-lhes um capítulo nas Vidas Paralelas.
[13] Em agosto de 1932, Simone Weil viajou a Berlim para conferir de perto a situação na Alemanha onde constatou o impasse do movimento revolucionário, espremido, de um lado, por uma socialdemocracia reformista, cujos líderes, bastante próximos dos governantes da República de Weimar, eram por demais estranhos ao proletariado ativo na produção industrial; do outro, por um partido comunista fragilizado, agrupando desempregados e elegendo os socialdemocratas como seus principais adversários. Ambos deixavam o campo aberto para o avanço de Hitler e do nacional-socialismo. Ela notou a subordinação, seja da social democracia à burguesia gestora do Estado capitalista, seja da Internacional comunista ou Komintern, à burocracia gestora do Estado soviético. Suas impressões de viagem foram registradas em alguns artigos escritos entre 1932 e 1933. Cfr. Oeuvres Complètes, t. 2, v. 1,  Écrits historiques et politiques – L´engagement syndical (1927-juillet 1934), Paris, Gallimard, 1988, p. 116-212.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Cultura Grega Antiga - Visão da Antropologia Filosófica




Texto de Eneide Pompiani de Moura referente ao fórum de discussão sobre “O Lugar do Homem na Cultura Grega” da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência - Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo, coordenado pelo Prof Vicente Sergio Brasil Fernandes (março/2012).

Falar do homem sobre si mesmo é falar do homem sobre a humanidade que se apresenta nas seguintes formulações: Quem somos? Por que existimos? Por que buscamos o sentido das coisas?
Em nosso dia-a-dia são muitos os momentos e situações em que o(s) questionamento(s) sobre o ser humano e o sentido de sua existência pode(m) aparecer, onde várias respostas podem ser apresentadas. Uma resposta em particular será diferente se for formulada de forma generalizada – este é o foco da antropologia filosófica -  que vai buscar as respostas para a existência da humanidade e aí nos incluímos como partes de um todo maior.
Portanto, as respostas também podem ser várias e diferentes dependendo do foco de sua pergunta. Assim, encontramos respostas sobre o homem na ciência – biologia, sociologia, história, economia, psicologia etc... – e, também, na Filosofia Antropológica.
Karl Jaspers nos diz que “quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade”.

Refletindo sobre: O sentido da palavra cultura para o homem grego, considerando que é nesta que ele tentará fundar um processo de individualização.
A cultura para o homem grego pode ser entendida como a totalidade das manifestações e formas de vida que permite a caracterização de um povo, pois, através da apreensão da cultura como princípio formativo, que o povo grego, considerou a totalidade de sua obra originária em relação a outros povos. É a partir deste pensamento grego que serviu como fonte de todo o impulso criador do mundo ocidental, instaurando os sentidos para a existência do homem. Este homem que passa a ocupar um lugar de destaque na cultura.
A identidade de um povo se manifesta na cultura, isto é,  suas realizações que o torna peculiar. O destaque é dado ao homem com criador desta mesma cultura. A cultura não é um dado exterior ou soberano, mas é um “produto” do agir do homem.  Na sua individualidade o homem  cria, pensamentos, ações e linguagem que formam a cultura que é também o lugar da realização comunitária. Portanto, nota-se que apesar do homem encontrar a sustentabilidade no comunitário (o indivíduo põem-se ao serviço da Polis), o individual não fica ofuscado.
A cultura passa a ser a própria existência do homem, que coloca em questão o seu eu individualizado: todo o modo de ser do homem é um questionamento. Ao fazermos isso, inauguramos uma nova linguagem, uma nova forma de compreensão do mundo ou do próprio homem que o habita.

Questionar é próprio do homem. O homem não se contenta só com existir por existir. Não quer só o estar aí. Todo o seu viver constitui um contínuo questionamento na procura do sentido do seu existir como ser. Talvez, para o homem, o questionar seja uma aspiração para ultrapassar a sua finitude e buscar outras formas de existências. É próprio do homem não aceitar ser “aprisionado” numa estruturas não dinâmicas, como que exilado do próprio ser. Por isso, questionar liberta o homem das amarras do destino permitindo-lhe  reinventar-ser continuamente.

Todas as questões são colocadas na forma de diálogo como uma característica fundamental da existencia do homem, livrando o homem das amarras da própria existência. Ao dialogar, o homem coloca o seu pensamento ao olhar crítico do outro e vice-versa. Por isso é que, para o Platão, o homem é essencialmente diálogo, pois por este meio, ele ultrapassa todas as formas de esquematização analítica.

Platão entende que, por um lado, o diálogo revela a necessidade da comunicação, isto é, agir sobre e em direção do outro; e, por outro, o diálogo indica uma maneira bastante original de ser homem, pois todos vivem em sociedade. Sendo assim, o homem é ação e é, por isso mesmo, também político.
É através do diálogo que o homem relega a si mesmo não se justificando como também não se identificando. É preciso seguir em busca de novas fundamentações que possibilitem uma nova postura. A resposta encontrada pelo homem está na vida social mais universal e mais ampla que a dimensão familiar.

Apesar do homem possuir uma grande vontade de se reconhecer como indivíduo, o homem não pode fazer o caminho unicamente sozinho, pois perderia a sua identidade como ser em comunidade. Quer queira, quer não, o homem realiza-se entre as comunidades dos homens.
A vida política permite ao homem grego encontrar a sua razão maior de ser no mundo. Esse bem estar gerado pelo encontro com a essência humana, provoca o aparecimento de leis e normas que permitem uma certa segurança nesse estilo de vida, nas diferentes expressões da cultura. 
O controle da vida do homem em sociedade, num primeiro momento, se fez através da  religião e da família. Com o amadurecimento da polis há a edificação de leis universais que favorecessem a vida social. É a partir do entendimento de polis que aparece o sentido da existência do homem grego. Dentre outras questões, a geração de novas estruturas existenciais se tornam possíveis quando o homem se percebe como individuo e como ser político. Posteriormente, as novas estruturas da pólis permitiram ao homem que se unisse a outros homens e a outros grupos.Ampliando-se as possibilidades de estruturas que dão sentido a existência humana.

 autora: Eneide Pompiani de Moura

terça-feira, 20 de março de 2012

Hoje, 20 março 2012, inicio do Ciclo do Outono (no Hemisfério Norte). O que representa para voce?


As Celebrações são ritos de passagem. Assinalam o final de um ciclo e o começo de outro, nos situam no contexto do todo, inserem nosso micro-cosmo pessoal dentro do macro-cosmo Vida.

Em cada ciclo há aquele que precisa ser finalizado através do aprendizado deixado para que a entrado do novo ciclo nos possibilite a novas formas de pensar – falar – agir e sentir.
Prestar atenção nos ciclos entendê-los, honrá-los e celebrá-los pode ser terapêutico, se você quiser se tornar mais consciente do mundo que te rodeia (interno e externo).

Hoje, 20 março 2012 o Sol entra no signo astrológico de áries inaugurando um Novo Ano Astrológico. O equinócio do outono é quando a noite alcança o mesmo tamanho do dia, no hemisfério sul  -  aqui no Brasil - será o início da estação do outono e no hemisfério norte, início da primavera.


O significado místico do ciclo do outono nos diz que é um período de preparação e recolhimento para a próxima estação que é o inverno. Também é um período de agradecimento por tudo o que conseguimos até agora. Se durante o outono perceber o tempo mais frio, cinza, potencialize a decoração de sua casa com mais objetos ou flores coloridas para alegrar mais o seu ambiente.


Para aproveitar as oportunidades de um novo ano astrológico tendo a Lua como regente e simultaneamente o inicio do ciclo de outono se proponha a MUDAR (interiormente e externamente) para isso, desapegue das coisas/atitudes que você não deseja mais e FAÇA DIFERENTE. EXPERIMENTE O NOVO... e verá que muito tem a ser vivenciado.

Paz profunda!
Eneide

segunda-feira, 19 de março de 2012

FELIZ ANO NOVO ASTROLÓGICO e R+C 3365



FELIZ ANO NOVO!



Na verdade TODO DIA
é UM DIA NOVO...
mas... nós humanos precisamos de referencias...
pois, isto nos humaniza.
A Filosofia é uma prova disto!
Em todas as épocas da humanidade
a busca pelo auto-conhecimento
se faz por varias correntes interpretativas...



Acredito,
que não importa que corrente voce siga!
O mais importante...
é ter uma corrente de pensamento
que voce se identifique
e a partir de um referencial
voce busque respostas
as suas mais intimas questões
do seu existir
da sua essencia!



AMANHà
20 março de 2012
Incia-se o ano novo Astrológico
como também
o Ano Novo R+C



Desejo a todos
FELIZ ANO NOVO
e que novas oportunidades
se abram 
se concretizem
para todos
segundo os seus desejos
e seus merecimentos!
PAZ PROFUNDA
Eneide Pompiani de Moura



Se voce quiser conhecer um pouquinho mais sobre 
as PREVISÕES ASTROLÓGICAS PARA 2012
Segue alguns links 
tenho certeza que voce 
ficará mais atento
a toda energia que nos cerca
e saberá usufrui-las melhor!

Aproveite!
Paz Profunda
Eneide Pompiani de Moura     

 
Previsões Astrológicas de Marcelo Dalla

19 MARÇO 2012. Final de ciclo solar e lunar. A Lua balsâmica em Aquário estimula o raciocínio e a criatividade e nos convida a pensar sob pontos de vista diferentes. A combinação entre Lua e Saturno nos ajuda a moldar os projetos, a formatá-los. Mercúrio retrógrado se une à Urano e reforça a necessidade de repensarmos diversas questões em prol de melhorias. Estamos sedentos por novidades, mas ainda é preciso estudar, revisar e maturar as informações para implementá-las. Enquanto isso, Marte, Júpiter e Plutão em trígono, também favorecem as revisões em prol de uma economia mais justa e saudável. Tempo de grandes mudanças!

O ingresso do Sol em Áries EM 20 MARÇO 2012 marca o início de um novo ano astrológico. O ritmo dos acontecimentos tende a se acelerar nos próximos dias. Mas a Lua ainda finaliza seu ciclo, em Peixes, pedindo momentos de introspecção e análise. Podemos aproveitar para rever o que foi realizado no ano que passou, estabelecer as próximas metas. A Lua nova acontecerá na próxima quinta-feita. Aí sim, contaremos com coragem e clareza para impulsionar as novas iniciativas. Mercúrio retrógrado está conjunto a Urano: falhas e imprevistos estão em pauta. A mente está a mil! A dica é meditar para controlar a inquietação.
autor: Marcelo Dalla


  Previsões Astrológicas de Marcelo Dalla


O Sol entra em Carneiro / Áries no dia 20 Março - Antonio Rosa


Programa Semanal da Astróloga Katia Ripani – Café com Astral


sábado, 17 de março de 2012

ARISTÓTELES - Visão da Antropologia Filosófica




Texto de Eneide Pompiani de Moura da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência - Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo, coordenado pelo Prof Vicente Sergio Brasil Fernandes (março/2012).

                       Para o Aristóteles, ao contrário de Platão, o homem permanece na terra e contempla a si mesmo, a natureza e o mundo. O homem retorna-se a si mesmo, tornando-se algo de positivo. Ao falar de si mesmo, sendo o exemplar de uma espécie, alcança consciência de si mesmo enquanto homem e não enquanto este homem. Concluindo, «é, para si mesmo, um ele, e nunca um eu».

                     Aristóteles nos dá uma visão realista do mundo e do homem. Do mundo enquanto, opondo-se ao idealismo platonico, faz das ideias formas da matéria. Do homem enquanto faz o conhecimento intelectivo proceder da experiencia e enquanto afirma que as ideias universais, em seu significado, têm certa correspondência com a realidade externa.
“Aristóteles coloca os ‘pés’ do homem na terra. Fala do homem concreto, aquele que vive no mundo e que interage com e ele e com todos os seres.” 

               Aristóteles ao tomar como fundamento de seu pensar a existência concreta do homem como um ser que está inserido no conjunto da natureza e que – a partir desta consciência de pertença a este conjunto natural – precisa afirmar a sua humanidade de um modo peculiar. Neste sentido, eu reflito que na filosofia de Aristóteles o homem é um “zoon logikon”, isto é, o homem é um animal racional, aquele que tem a possibilidade de construir um sentido para a sua existência, que a torne razoável, justificada pela razão.
O velho pensador de Estagira através da afirmação peculiar de que a essência do homem reside na razão. Essa afirmação perpassa como referência a história das ideias.

Autora: Eneide Pompiani de Moura

PLATÃO - Visão da Antropologia Filosófica


Texto de Eneide Pompiani de Moura da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência - Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo, coordenado pelo Prof Vicente Sergio Brasil Fernandes (março/2012).



                   O homem platônico, representado por ele na figura de Sócrates, é um homem inquieto que a todo tempo busca, questiona, a fim de entender a si mesmo. Num esforço perene nessa busca pela auto-compreensão, num projeto sem fim uma vez que a libertação do corpo só se dá pela morte.

                     Platão nos dá a entender que toda a reflexão acerca da vida e do mundo deve partir do próprio homem. Na medida em que se desenrola esse estudo, o homem vai se constituindo. 

                    Para Platão, o homem sendo concreto, é a ele que direciona de modo particular o seu discurso, homem esse representado pela figura de Sócrates. Nesse caso, Sócrates deixa de ser uma forma de expressão, passando a ser entendido «como a expressão filosófica em si mesma», ou o exemplo de um homem filosófico por excelência. Deste modo, se pode entender como a filosofia exalta os vários aspectos fundamentais no contexto reflexivo sobre o homem; isto é, o homem é anterior ao próprio filosofar. Ele posiciona-se diante dos problemas da existência como também diante de si mesmo. Esse posicionamento ultrapassa toda e qualquer filosofia sistematizada.

                    Platão, ao distinguir o homem filósofo como aquele que vive segundo o espírito e o não filosófico aquele que vive segundo a visão sensível das coisas, faz com que a alma adquira uma importância singular, em detrimento do corpo, considerado com entrave para a existência. Mas «esta problemática é uma relação dinâmica que só terá existência se for vivida. Portanto, a dualidade alma-corpo é algo fundamental para a compreensão mais abragente da existência».

               
Para Platão é pela palavra partilhada no processo de diálogo que o ser humano cria o mundo, a verdade. Verdades partilhadas constroem consensos dialógicos. Esse modo de ser do homem sobre a face da terra que necessita se abrir para o outro, através da forma respeitosa e reconhecedora do diálogo, cria a possibilidade de fazer nascer a verdade que, no fundo, já habitava em cada um dos interlocutores.

                 Com Platão a especulação filosófica atingiu inesperadamente uma de suas expressões mais alta. No pano histórico ela representa um esforço de síntese entre Heraclito (devir da realidade sensível) e Parmenides (ser do mundo real), a serviço da vida moral e cívica do homem (Socrates). 

                         A característica dominante do seu pensamento é o dualismo: ser em si e coisas que participam do ser, inteligível e sensível, alma e corpo, etc. Portanto, Platão soube aproveitar este dualismo para dar a toda as atividades humanas sentido transcendente, movimento vertical, valor perene. De fato, o seu poderoso apelo para as ideias ultra-terrenas é uma das mensagens mais nobres jamais comunicadas à humanidade. 


Autora: Eneide Pompiani de Moura