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Site: http://www.kant.org.br/
O método especulativo em Kant
PROJETO DE DOUTORADO
Pesquisador: Leopoldo Fulgêncio
Orientador(a): Prof. Dr. Zeljko Loparic
Instituição: Pontifícia Universidade Católica - SP
Departamento/Programa: Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica
Palavras-chave: metapsicologia - especulação - heurística - metafísica
da natureza - forças - pulsões - analogia - Freud - Mach - Kant
Resumo: Esta tese apresenta uma análise conceitual do método
especulativo em Freud, cujo fruto principal é a metapsicologia. Freud é
interpretado como defensor da visão da ciência que considera a pesquisa
empírica como uma prática de resolução de problemas. Mostra-se que essa visão
da ciência é herdada por Freud da tradição positivista e kantiana na filosofia das
ciências da natureza. Por um lado, Freud é devedor do programa de pesquisa
empírica elaborado por Kant na Crítica da razão pura. De acordo com esse
programa, apresentado como uma metafísica da natureza, toda ciência empírica,
inclusive a psicologia, deve ser construída por uma pesquisa guiada pelos
princípios a priori do entendimento e pelas idéias da razão pura teórica. A
ficção heurística de forças originárias e a escolha do ponto de vista dinâmico
nas explicações científicas dos processos naturais são alguns dos pressupostos
a priori necessários de toda ciência natural. Por outro lado, é nas obras de
Ernst Mach que se encontra a fonte de várias posições centrais de Freud
relativas ao status epistemológico e ao uso metodológico especulações na
ciência empírica. Tal como Kant, Mach defende um programa de pesquisa empírica
que utiliza especulações para fins heurísticos, sem considerá-las, contudo,
como a priori necessárias, mas como construções auxiliares provisórias. Para
ele, conceitos tais como o de força e o de energia são representações-fantasia
ou mitologias, temporariamente úteis na investigação das relações empíricas
entre os fenômenos naturais, mas que deverão ser substituídas, na formulação
final da ciência da natureza, pela simples descrição dos fatos, sem nenhuma
metafísica quer realista quer ficcional. Depois de pôr em evidência que a
psicanálise freudiana tem uma parte empírica e outra especulativa, será
mostrado, em primeiro lugar, que os três pontos de vista fixos - o tópico, o
dinâmico e o energético, de acordo com os quais Freud elabora as especulações e
explicações metapsicológicas - são uma adaptação do programa kantiano de
pesquisa empírica; e, em segundo lugar, que Freud, apoiado em Mach, concebe
essas especulações como uma superestrutura especulativa da psicanálise,
passível de ser substituída sempre que for encontrada uma mais frutífera. Para
completar a análise do método especulativo, será examinado o método analógico,
usado por Freud como guia na busca e compreensão dos fenômenos psíquicos, com
especial atenção ao que há de empírico e especulativo nas analogias empregadas.
Tendo explicitado a metapsicologia freudiana como um conjunto de especulações
sobre o inconsciente e, de um modo geral, a natureza humana, oriundas de um
programa de pesquisa que naturaliza o psiquismo, seremos levados a perguntar,
ao final, se o programa freudiano, herdado no essencial de Kant e dos
pós-kantianos, pode se manter face aos desenvolvimentos da filosofia
contemporânea - exemplificados pela obra de Heidegger que procede à
desconstrução da metafísica ocidental no seu todo - e da própria psicanálise,
que - tal como se depreende da obra de Winnicott - não aceita mais o emprego do
método especulativo. Nesse sentido, este estudo oferece uma contribuição para as
discussões atuais sobre a possibilidade de uma ciência psicanalítica sem
metapsicologia.
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