Esta é uma adaptação feita por mim, Eneide, do texto original do Prof Vicente Sérgio Brasil Fernandes da Disciplina “O modo de conceber e fazer filosofia de alguns pensadores medievais” da Universidade Católica de Brasília – Curso de Pós-Graduação em Filosofia Existencialista.
Introdução (de Eneide): Santo Agostinho (354 – 430 d.C) filosofo medieval, pertence ao grupo dos filósofos patristicos. Segundo Jeuneau, Santo Agostinho resume sob uma tríplice rubrica: um ideal cultural, uma síntese doutrinal, uma orientação filosófica. O ideal cultural exprime-se por meio de uma imagem bíblica invocada no De doctrina christiana (II, 40, 60-61).
Agostinho vê no episódio do despojamento dos egípcios pelos judeus, narrado no Êxodo (XI, 2 e XII,35-36), um valor simbólico. Ele prefigura a atitude do cristão para com a sabedoria pagã: as verdades acaso anunciadas pelos chamados filósofos não só não devem ser temidas, mas reclamadas deles como de injustos possuidores. É o que o próprio Agostinho põe em prática ao se tornar cristão, monge e bispo. Coloca a serviço da sabedoria cristã sua cultura de retórico.
Segue o Texto adaptado do Prof Vicente Sérgio Brasil Fernandes para responder a questão “O que é o tempo?”
Diz o Prof Vicente, uma das perguntas mais difíceis.
Nada nos é mais familiar do que o tempo, e, quando se trata de dizer em que consiste o seu ser, nada nos é mais estranho e fugidio.
Platão e Aristóteles tinham levantado esta questão a partir do horizonte do movimento cósmico, especialmente do movimento dos céus, pois é o movimento contínuo e regular dos astros que nos permitem medir o tempo.
Ao medir o tempo, pressupomos um antes e um depois.
Aristóteles disse que o tempo era a medida do movimento, o número que se percebe com a passagem do devir, transição do anterior ao posterior, duração, sucessão.
O tempo medido é número: ritmo de passagem, de transformação, de devir dos entes.
Entretanto, o movimento é a causa de conhecermos e medirmos o tempo.
Será mesmo que a essência do tempo é o número do movimento (ritmo)?
Já Aristóteles parece ter vista a insuficiência desta resposta.
Se o tempo é número, o que é que numero o ritmo do movimento?
A alma, dizia Aristóteles.
Com isso, Aristóteles trazia a questão do tempo para o terreno da alma que numera o movimento.
Assim como o corpo se define a partir do espaço, também a alma se define a partir do tempo.
O espaço se dá a partir da experiência dos sentidos externos.
O tempo, a partir da experiência do sentido interno, melhor da consciência.
Agostinho irá fazer da consciência o foco central da análise do tempo.
Seu horizonte é a duração vivida e a consciência da sucessão.
Nesta perspectiva, o tempo e a alma são quase a mesma coisa.
O tempo é uma "distentio animae", um distender-se da alma.
Como?
Agostinho responde que o passado é o que se dá como recordação.
O futuro, o que se dá como expectativa.
E o agora é o que se dá como atenção ou como auto-presença da mente a si mesma.
Na verdade, todo tempo é agora.
O passado é o agora que foi retido na memória e que se torna presente como recordação.
O futuro é o agora que se espera e que se tem presente como expectativa.
Para Agostinho, há três formas de presente:
- o presente do passado,
- o presente do futuro e
- o presente do presente.
Para Agostinho, tudo se define, porém, como presente, a partir da presença da alma a si mesma.
Neste sentido, o tempo é uma imagem da eternidade.
Eternidade é puro presente e pura presença.
A grande luta existencial do homem consiste em recolher-se de sua perda de si mesma junto às coisas fugidias e múltiplas, que tendem para o não-ser e concentrar-se no presente, na presença, no agora da eternidade de Deus, onde tudo é uno. Este é o anseio maior da contemplação.
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