segunda-feira, 23 de abril de 2012

Antropologia Filosófica segundo Platão, Santo Agostinho, Idade: Média, Renascença e Contemporânea.

Texto de conclusão de disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" de Eneide Pompiani de Moura. Tema: “Antropologia segundo: Platão, Santo Agostinho, Idade Média, Idade da Renascença e Idade Contemporânea”.  Curso de Pós-graduação em Filosofia da Existência,Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo -  coordenado pelo Prof Vicente Sergio Brasil Fernandes (abril/2012).  
NOTA FINAL: 97,0

Local: Morada do Silencio - Curitiba - Estado do Paraná - Brasil


       O papel do diálogo como aspecto fundamental na significação do homem platônico, parte do paradigma que para Platão o homem é um ser concreto, inquieto na busca a auto-compreensão através de sua autonomia no direcionamento de seu discurso.
Para Platão é pela palavra partilhada no processo de diálogo que o ser humano cria o mundo, a verdade e simultaneamente vai se reconhecendo através da auto-expressão não sistematizada. Verdades partilhadas constroem consensos dialógicos onde há uma compreensão de si mesmo e do outro. Esse modo de ser do homem no mundo que necessita se abrir para o outro, com uma forma respeitosa e reconhecedora do diálogo, cria a possibilidade de fazer nascer a verdade que, no fundo, já habitava em cada um dos interlocutores. Essa necessidade de comunicação no diálogo identificada por Platão valoriza o agir em direção ao outro na polis representada pela vida social mais universal, possibilitando a novas posturas além da dimensão familiar.
Assim, é em Platão que se tem no diálogo a condução plena da existência humana através da auto-expressão do ser humano (expressão do ser de sua existência), de não se entregar ou não se integrar a nenhuma forma de esquematização analítica, de ultrapassar os limites das palavras, que pressupõe a existência concreta de um Ser que fala (Ser como intersubjetividade), que especula com o outro através da troca de conhecimentos e respeito com o outro.
Assim, há duas dimensões nos Diálogos de Platão, uma ligada a ação e outra com a política, quando informa a necessidade da comunicação (diálogo) que é agir sobre e em direção ao outro como, também, indica o viver em sociedade (política).
Platão, ao distinguir o homem filósofo como aquele que vive segundo o espírito e o não filosófico aquele que vive segundo a visão sensível das coisas, faz com que a alma adquira uma importância singular, em detrimento do corpo, considerado com entrave para a existência. Mas, em minha opinião, esta problemática é uma relação dinâmica que só terá existência se for vivida. Portanto, a dualidade alma-corpo é algo fundamental para a compreensão mais abrangente da existência.
Já as características fundamentais do homem greco-romano estão presentes na fundamentação agostiniana.
Explicando melhor, é no período greco-romano as reflexões filosóficas centram-se no homem, partindo de suas experiências através do seu histórico-pessoal. É valorizado aquilo que possui importância pessoal e que, para poder ser valorizado, precisa que ele veja sua vida a partir de si mesmo, tentando definir sua condição como pessoa. Este referencial está presente em Santo Agostinho que tem como ponto de partida a concepção de homem a partir de sua própria experiência interior. Em sua obra “Confissões” ele afirma: “Eis que habitavas dentro de mim e eu lá fora a procurar-Te”.
Assim, a filosofia passa a ser vista como o desenrolar da própria vida do homem. É preciso que a fundamentação filosófica tenha em vista essa vida, perseguindo incessantemente os seus fins. Agostinho se baseia na certeza de que a vida está sempre presente para nós mesmos. Somos nós que a definimos e construímos.
     A filosofia greco-romana e agostiniana tem como objetivo comum compreender a própria vida, valorizando e dando conta, a partir da linguagem, da vida do homem tal como ela é e acontece. Carrega assim, a tarefa do homem compreender a totalidade de sua vida, construindo os significados conscientes de sua existência.
A tomada de “decisão agostiniana” pode significar uma antecipação das problemáticas existenciais fundadas na contemporaneidade tendo como características fundamentais da antropologia agostiniana: o homem como um ser uno; o homem como um ser itinerante; o homem como um ser-para-Deus.
A antropologia agostiniana especifica que o homem quando não está contente consigo mesmo, ele busca um novo “eu”, isto pode ser observado com a decisão histórica do próprio Agostinho quando num primeiro momento ele é um famoso professor de oratória a procura de fama e num segundo momento quando é acometido por uma doença e por isso, decide interromper a sua carreira e objetivo para tomar uma outra decisão histórica que neste caso foi abraçar o cristianismo. O mais importante nesta decisão (2.o momento) é o seu domínio de uma história interior da vida (1.o momento) para um desvio de sua função vital como forma de reação interior frente aos novos fatos de sua vida – doença – escolhendo o 2.o momento como sua decisão histórica buscando um novo eu. Agostinho não nega a nova situação da fragilidade de sua saúde ao contrário por meio de sua vontade voluntária ele busca uma outra convicção de verdade para o seu projeto de vida, re-elaborando em sua essência a sua pessoa espiritual como forma motivadora para o seu novo projeto de vida interior despertando uma nova motivação psicológica. A crença na realidade de Agostinho acentua que a unidade da vida somos nós que a formamos e que nós estamos sempre presentes para nós mesmos.
A ampliação dos horizontes da visão de mundo da humanidade, vem de encontro no período da Renascença dos descobrimentos geográficos e com ele toda uma cultura, para não dizer da revolução de Copérnico.
A consciência do homem sobre si mesmo a partir de sua autonomia, a liberdade, a individualidade marca o ideal do homem através da vida subjetiva, natural rompendo com todo elemento supra-sensível e sem o caráter religioso. Assim, há a percepção e da ação do homem como centro de todas as coisas, objetivando o domínio sobre a natureza.
Neste momento, o homem da Renascença se opõe aos valores da Idade Média, mas opera uma continuidade com os valores e estruturas medievais. Por isso, o conceito de homem na Renascença é dinâmico. Assim, o homem renascentista surge como consequência da decadência do homem medieval. Inaugura-se uma nova relação individual com a sociedade, a questão da escolha de seu próprio destino por cada um trouxe novos valores e um modo de comportamento acentuadamente individualista. Com o renascimento dissolve-se o sistema medieval unitário de valores, dando lugar ao sistema pluralista de valores morais.
No renascimento o homem tem consciência de si a partir de sua autonomia, independente de qualquer norma que transcenda a sua natureza. A liberdade e a individualidade passam a ter um valor de mundo e do próprio homem. O ideal do homem é de vida subjetiva, natural, individual, rompendo com todo elemento supra-humano, sem caráter religioso.
O Renascimento é a continuação dos pensamentos da Idade Média como reestrutura de valores e estruturas. Por isso, o renascimento apresenta as inquietudes apresentadas na idade média, mais sob uma forma dinâmica dos conceitos do homem, quando a pessoa passa a ter a sua própria história de desenvolvimento pessoal e assim a sociedade também adquire sua história de desenvolvimento. O homem no renascimento procura a unidade entre conceitos de homem e ideal de homem (ideais pluralistas/ valores morais pluralistas) oposto aos valores do sistema medieval unitário de valores.
No final da Idade Média o sentimento entre as pessoas, submetidas a este sistema coletivo, era de depressão, melancolia e ansiedade desenvolvendo como resultado deste estado de descontentamento a busca pelo individualismo como reação ao coletivismo deteriorado.
No Renascimento o individualismo encontra apoio nas ciências modernas através do domínio da natureza. Esse domínio significa o poder de dispor da natureza segundo as necessidades e conveniência do homem (como observado por Descartes em sua obra 1637 – Discurso do Método, Francis Bacon – utilitarismo, matemática – fenômenos mensuráveis reais).
A dimensão de historicidade implica ou afeta o modo de ser do homem contemporâneo quando passa a ser vislumbrada na possibilidade de uma autoconsciência da história.
A Historicidade no homem contemporâneo parte do paradigma que o homem não é somente produto de sua história, mais possuidor de autoconsciência de sua história, tendo uma capacidade de escolha e independência para um desenvolvimento pessoa e histórico auto-consciente (o homem tem domínio de seu próprio destino histórico).
Isto significa que o homem tem a capacidade de moldar a sua história nas direções por ele escolhidas. Dá-se ao homem a possibilidade de vivenciar novos valores com objetivo de expansão do indivíduo refletindo diretamente em sua cultura que passa a se efetivar sempre de forma renovada. Como resultado a historicidade deve comportar o exercício de liberdade como dimensão autêntica e específica do homem.
No conceito de historicidade a historia não é mais um fato consumado mais um passado não acabado nem terminado onde se alarga com as novas compreensões, com o resgate de novos sentidos sobre o homem e sua história. A ênfase está na parte ativa do homem, à criação atual e futura da historia e da sua história.
A historicidade além de ser um desdobramento é também como cristalização de todos os elementos fundamentais da existência. Uma das características essenciais do homem é a de ser ele histórico e isto pelo fato principalmente de ser capaz de realizar sua própria existência.
     Quando o homem se torna consciente ou autoconsciente, ele se institui como sujeito. Ser sujeito é voltar a centrar-se em si próprio através de sua percepção consciente dando-lhe um sentido de liberdade.
A intersubjetividade, situação na qual vários sujeitos formam uma sociedade ou comunidade dá importância o reconhecimento do outro além do próprio pensamento como também do corpo (ou corporeidade) em suas varias expressões e significações. O Eu e o Outro são sujeitos numa visão subjetiva. É pelo comportamento que o eu torna-se acessível ao outro e é pelo comportamento do outro que este se torna acessível ao eu.
A liberdade ao ser exercida a partir de situações concretas vem da ação com responsabilidade. Quando a liberdade assume um sentido de maturidade, o homem realiza os seus atos sem a necessidade da aprovação ou reprovação dos outros assumindo um status de autenticidade, por não estar preocupado com nenhum tipo de legitimação para sua existência a não ser ela própria.
Ao ser conseguido o status de liberdade com maturidade pressupõe-se a libertação de vários estados de alienação como: sujeição social, política, econômica, ideológica, medo e relações imaturas com vários âmbitos da existência.
A liberdade madura significa que o homem possui a si mesmo e é ele quem determina as diretrizes de sua existência, sem qualquer interferência negativa de dimensões externas, mas a partir de opções bem refletidas e essencialmente pessoais.

Autora: Eneide Pompiani de Moura


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