Texto de conclusão de disciplina "Superação da Metafísica e a ética em alguns pensadores contemporâneos" de Eneide Pompiani de Moura. Curso de Pós-graduação em Filosofia da
Existência - Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo, coordenado pela Profa. Luciana S. M. Ferreira
(abril/2012).
NOTA FINAL: 10,0
NOTA FINAL: 10,0
1)
O que se entende por metafísica; como realizar
sua superação e como fazer filosofia após essa superação.
A
Metafísica tradicional de Platão e Sócrates a salvação do homem está no
princípio 1.0, imutável, fora do tempo, Uno, racional sendo considerado como a
verdadeira realidade. DEUS é o verdadeiro SER e o seu valor absoluto
desvaloriza tudo que é vida e força no mundo e no homem. Nietzsche via
contradizer dizendo que a realidade nunca pode ser reduzida a unidade e a
imobilidade; para ele é na multiplicidade e no movimento que está a própria
realidade (e não na unidade em Deus como defendido pela metafísica).
Nietzsche nega
todas as realidades do supra-sensível da metafísica socrática/platônica e dos
conceitos de Deus cristão onde só se leva em conta as coisas divinas e não se considera
a vida e as coisas da terra. Cria-se assim o NIILISMO.
Nietzsche ao anunciar a morte de deus ele se
posiciona a favor no niilismo ativo ou perfeito, dando a partir daí a
possibilidade para que o homem crie novos valores. Este homem ele chama de além-homem
ou super-homem. A vontade da potencia está presente no além-homem onde os
valores da vida na terra em seus contrastes são apresentados de forma real e
concreta. É na vontade da potencia de Nietzsche que o homem tem a capacidade em
ser criador e criatura de si mesmo,com suas necessidades de vida comum a todas
as pessoas. Um obstáculo apontado por Nietzsche diz respeito ao Tempo que ele
re-interpreta como o eterno retorno do instante. A realidade para Nietzsche é a
realidade Metafísica. A representação do Martelo de Nietzsche é a superação da
Metafísica de Platão e Sócrates.
A
superação da metafísica platônica segundo Heiddeger está na visão do
ser-aí/dasein enquanto possibilidade. Para Heiddeger o sentido do Ser se faz
como o Ser que se revela num ente concreto (como ser humano). Heiddeger vê que
a metafisica tradicional confunde o ser com o ente. Os primeiros filósofos
perguntavam pelo ser das coisas que viam e acabavam falando dessas coisas como
se falassem do seu ser. Mas para Heidegger, o ser não é o ente, embora o ser
seja sempre ser de um ente (diferença ontológica). Isso significa que o ser é
inapreensível e não é uma presença. É aquilo que me escapa. O problema de
Nietzsche, para Heidegger, é que ele foi mais um a falar apenas do ente. E assim
ele terminou sendo o último metafísico.
Dasein rejeita a crença da consciência fechada em si mesmo
(mundo interno) e de um mundo existente fora dela (mundo externo), ou seja, o
dicotamismo platonico (sensível e supra-sensível). O fato do homem dar o sentido
a tudo o que o rodeia o faz possuidor de dasein o que ele denomina de
ser-no-mundo. O ser-no-mundo constitui um existencialismo como um modo de ser
do dasein. O ser-no-mundo é quando o mundo é parte constitutiva de seu ser. O
Ser-Ai/Dasein se abre para o ser-com e para o ser-em dando a possibilidade de
compreender e interpretar a si mesmo, aos outros e aos demais entes.
Dasein/ser-ai é caracterizado como aquele ENTE que compreende o SER embora
inacabado mas com um poder-ser, como um projeto que ele tem de assumir.
Obra de Heiddeger – Ser e Tempo – não se pretende
eliminar a metafísica, mas desconstrui-la, a fim de fazer ver não só os
componentes que levaram ao esquecimento do ser, mas para examinar as
possibilidades contidas nelas. Isto é possível através da compreensão do ser
pelo Dasein/Ser-Aí pelo circulo hermeneutico e pela diferença ontológica.
Para Heiddeger o esquecimento do Ser (na metafísica
tradicional) está em confudir Ser com o Ente Supremo levando ao esquecimento do
ser. Devemos entender os entes a partir da compreensão do ser (na metafísica
foi ao contrário estudou-se ser a partir dos entes).
O
dasein/ser-aí (é o ente) tem uma pré-compreensão do ser. Assim o ser não se
conhece como um objeto frente a um sujeito conhecedor, pois, o ser faz parte da
condição humana.
2) Os pontos mais importantes das éticas de
Schopenhauer, Levinas e Dussel.
Schopenhauer vivencia
a transição do Iluminismo, do racionalismo kantiano e de Hegel para
construir um enfoque mais existencial. Ele aborda a existência do homem e seus
problemas em vários dos seus textos - nos quais aparece o tema da ética e da
moral.
Schopenhauer escreveu, 1819 “O Mundo como Vontade e
Representação”, ampliando e reescrevendo o tema em 1844 de forma mais
abrangente (apresentou um apêndice chamado “Crítica da Filosofia Kantiana”).
Escreveu também o “Parerga e Paralipomena” onde as partes sobre a Filosofia nas
Universidades e Aforismos para a Sabedoria na Vida estão publicadas em
português.
As obras mais ligadas ao assunto da ética são As Dores do
Mundo e Os Dois Problemas Fundamentais da Ética, publicados em 1841. Outros
textos como"Sobre a Liberdade" e "O Fundamento da Moral"
(apresenta a perspectiva ética de Schopenhauer).
Para Schopenhauer ética e moral são sinônimos (ou seja,
não há uma distinção entre eles) enfocando a as virtudes particularmente a
compaixão como fundamento para AÇÃO ÉTICA. Schopenhauer não concorda com
a ênfase ao dever e que o imperativo categórico seja o que nos conduz a uma
ação ética, defendida por Kant.
As ideias de vontade
de Schopenhauer foram influenciadas pelos textos da India como Upanishads e pelos textos budistas de Siddharta tendo
sempre como foco o tema da ética.
Schopenhauer esclarece quanto às regras da moral que: “... com cada
pessoa com que tenhamos contato, não empreendamos uma valorização objetiva da
mesma conforme valor e dignidade, não consideremos portanto a maldade da sua
vontade, nem a limitação do seu entendimento, e a incorreção dos seus
conceitos, porque o primeiro poderia facilmente ocasionar ódio, e a última,
desprezo; mas observemos somente seus
sofrimentos, suas necessidades, seu medo, suas dores. Assim, sempre
teremos com ela parentesco, simpatia e, em lugar do ódio ou do desprezo,aquela
compaixão que unicamente forma a ágape pregada pelo evangelho. Para não permitir o ódio e o desprezo contra a pessoa, a
única adequada não é a busca de sua pretensa 'dignidade', mas, ao contrário, a posição de compaixão." (SCHOPENHAUER, 1983, p.188)
Schopenhauer enfatiza que a realidade dos sofrimentos das
pessoas (inferno), durante toda a sua vida tem como causa fundamental o egoismo sendo este o motivador dos
tormentos presentes na existência das pessoas, á partir deste paradigma é que
surge a idéia de ética/moral de Schopenhauer onde é na atitude de compaixão que se conseguirá neutralizar o egoismo e as
dores da existência desencadeados por ele (o egoísmo). A superação do egoísmo
através da atitude prática da compaixão, caridade e piedade, ou seja, através
do agir por altruísmo, passa a ser um caminho prático para superação dos
sofrimentos/dores da vida de cada pessoa através da identidade do outro.
Na ética de Levinas há uma separação dos entes,
assim outro é diferente do eu, o externo existe entre eles o tornando
diferentes. Neste entendimento levinico o Eu pode reconhecer o outro como
totalmente outro e salvar a alteridade do outro. A ética de Levinas é como
alteridade da responsabilidade ou da heteronomia. Ela é concebida como uma
estrutura arcaica e anárquica da própria subjetividade (sem identidade).
Levinas critica a ética
da tradição ocidental (helenístico) por entender reduzir tudo à indiferença do
mesmo do ser e do eu não havendo lugar para o outro que é considerado como
exterior e este não existe. No Helenismo o outro é igual ao eu (outro = eu) ou
não há lugar para o outro como o outro. Tudo é ente. Tudo é ser. Não há totalidade no
pensamento de Levinas.
Os principais elementos da
Ética de Levinas são:
1) Critica dos pressupostos das éticas
ocidentais. (Eu = Outro)
2) A separação dos entes.
3) A casa.
4) O rosto:
o rosto e o infinito;
o rosto e
responsabilidade;
5)
O Outro é Mestre e Lei
Levinas
acredita que os entes humanos são separados um dos outros. Ele é contrário das éticas
tradicionais que se caracterizam pela autonomia, isto é, tudo é determinado e
assimilado pela liberdade do eu (o outro é reduzido ao eu e à neutralidade do
ser). Para Levinas a ética é heterônoma, ou seja, o outro é separado do eu e é
a partir da heteronomia, da exterioridade, do outro que se constrói a ética
levinasia.
Levinas defende a Ipseidade, que
é um termo usado
para expressar o movimento em que cada ente humano se torna singular, idêntico
a si mesmo. Os entes são separados um dos outros e a única maneira do Eu ser Eu
está no exterior da totalidade no fruir das coisas do mundo sem prestar
contas a ninguém. Diz Levinas: “A fruição é a própria produção de
um ser que nasce, que rompe a eternidade tranqüila, seminal ou uterina, para se
encerrar numa pessoa, que vivendo no mundo vive em sua casa”. A Ipseidade leva a felicidade para Levinas.
A morada ou a
casa possibilita que o Eu reconheça o Outro como Outro. O Eu egoísta e
satisfeito pode se abrir para a dimensão da hospitalidade reconhecendo o outro
como o outro. A morada ou a casa é a intimidade do Eu, dando a conotação de sua
condição de recolhimento (do Eu) que está manifestado no mundo. A representação
da casa é firmada na sua feminilidade como representação de abrigo,
acolhimento, calor humano, intimidade, de interioridade e de habitação
desenvolvendo assim a subjetividade do sentido da casa. A casa é o símbolo do
recolhimento do Eu.
A casa ou
moradia pode ter dupla interpretação: pode ser um fechamento em si mesmo como
pode se abrir ao outro através da hospitalidade (ao que é exterior). Diz
Levinas: “a habitação e a intimidade da morada que torna possível a separação
do ser humano supõe assim uma primeira revelação de outrem”.
O rosto (um
pensamento do infinito):
o
rosto e o infinito (passagem do outro para o infinito)
o
rosto e responsabilidade;
O rosto para Levinas
sugere a exterioridade na alteridade absoluta do outro que está na
transcendencia no desejo “metafísico” irreversível e insaciável pelo outro
(desejo infinito) por serem exteriores e separados; que não se fixa no presente
mais somente no passado sendo rotulado como o enigma do rosto – epifania
(aparição ou manifestação divina – abertura ao transcendente) dando uma
significação emanada pelo rosto. O roso indica uma realidade que não está
presente nele invertendo a ordem estabelecida. O rosto do outro não se deixa
sintetizar. A metafísica de Levinas está no encontro do rosto do outro, onde se
faz a relação com o infinito (relação com um terceiro – ele absoluto = ideal
infinito = transcendência irreversível).
O rosto e a responsabilidade está representada na anterioridade
do ser que se apresenta como vestígio do rosto. O rosto só se torna presente na
anterioridade através de uma ética de acusação, perseguição e responsabilidade
pelos outros. A responsabilidade é a única de ser diante do abandono do outro.
Alteridade,
exterioridade e magistério se identificam. Segundo Levinas toda verdade
referente ao mundo só tem sentido na medida em que permanecer unida e em
obidiência a uma verdade transcendente. Graças ao mestre a verdade é um
ensinamento da transcendência com olhar de autoridade e mandamento. No rosto do
outro se percebe um outro mais “alto” que eu através do decreto: “Tu não
matarás” – Levinas institui a não violência / a Paz; uma antropologia que se
situa fora do saber e poder totalitário do ser e do eu.O rosto é uma autoridade
e um envio sem fundamento no ser ou na razão através de uma palavra de ordem –
pensamento ético que restringe o eu.
O rosto é a palavra que ensina, não permitindo que o Eu
reduza o outro ao mesmo e ao ser além de proibir a violência matando o outro.
Dussel percebe os efeitos perversos do
eurocentrismo e o mundo globalizado onde a maioria é composta por excluídos que
vivem em estado de miséria concluindo que o sistema econômico vigente no
Ocidente é injusto onde os excluídos não são reconhecidos em sua alteridade. É
a partir dessa exterioridade da realidade da vida das vítimas da exclusão
social que Dussel não só denuncia esta crueldade como coloca proposições de
como as vítimas/excluídos com auxilio dos outros podem se libertar (práxis)
transformando as normas e leis, os atos, as instituições ou sistemas de
eticidade vigentes na sociedade injusta. Para Dussel, toda a pessoa tem
igualdade de direitos não só de sobreviver, mas de viver bem e com dignidade.
A elaboração da ética da
libertação se fez através da história das éticas nas culturas antigas
particularmente no modo positivo de olhar para corporeidade e a vida como do
Egito africano-bantu, dos semitas do Oriente Médio, do mundo meso-americano e
inca contrapondo o lado negativo das culturas do mundo indo-europeu.
Dussel apóia o
pensamento ético daqueles que valorizam positivamente a vida, o corpo e o mundo
sensível desenvolvem uma sensibilidade muito grande diante da dor do pobre, do
órfão, da viúva, do estrangeiro e do excluído: ouvem seus gritos de dor e se
sentem responsáveis por eles.Na mesma linha desse pensamento ético a partir da
exterioridade da vítima temos Marx e Levinas. Ressaltando que aqueles que vêem
negativamente a vida, valorizando apenas o espiritual (a alma), não conseguem
perceber a interpelação ética da vítima que têm fome, está nu, está submetido à
escravidão física ou de dominação. A ética de libertação de Dussel é material
de conteúdo que tem como proposta pensar filosófico-racional da situação real e
concreta, ética, da maioria da humanidade com vistas histórica e filogenética.
Dussel,
Marx e Levinas tem em comum o foco da ética a partir da exterioridade da
vítima, com vistas à luta pelo reconhecimento de entes humanos excluídos dentro
de cada país como também do planeta como um todo. É na crítica ética do sistema
vigente, que nega a corporeidade que se expressa no sofrimento das
vitimas/excluídos/dominados.
A mesma crítica de uma sociedade que
produz vítimas através da dominação da época e da razão moderna foi também
discutida entre outros filósofos como: Feuerbach,
Schopenhauer, Nietzsche, Horkheimer,Adorno,
Marcuse e, particularmente, Freud, Marx e Levinas.
Uma crítica negativa só é possível
quando se reconhece o outro (a vitima/ o excluído/ o dominado) como sujeito
autônomo, livre distinto além de igual. Através deste reconhecimento onde a
vítima é um sujeito é possível criticar o sistema que o exclui. Baseado
em Levinas, para quem o rosto do Outro é interpelação, Dussel diz:”Porém um
passo mais profundo ainda é a resposta simultânea diante do dito
re-conhecimento como re-sponsabilidade, anterior ainda ao chamado da vítima à
solidariedade.” Assim, o critério da crítica negativa vem da descoberta da
negatividade da vitima como vítima, impossibilitando-a de reproduzir a vida
pelo sistema onde a vitima aparece como não-verdade. É na negação crítica que
se afirma o reconhecimento da dignidade autônoma do outro como outro e, ao
mesmo tempo, é compromisso responsável para com ele. Mas é a partir da
negatividade mais originária (negatividade material primeira) que se dá esse
re-conhecimento re-sponsável. É a partir deste paradigma que Dussel vai
estabelecer uma passagem do enunciado descritivo para o normativo-ético (do ser
para o dever-ser) através dos enunciados:
a)
Este ato ou mediação, que
não permite à vítima viver, nega-lhe, ao mesmo tempo, sua dignidade de sujeito
e a exclui do discurso. (Ibidem, p. 376) Não permitir a vida é um mal que vem
da finitude humana. O mal é a origem oculta que causa vitimação.
Este pensamento está de acordo com
Levinas que critica a totalização do ser e Marx que critica o valor da economia
capitalista. Surge assim o o re-conhecimento re-sponsável da vítima como ente
humano autônomo em sua corporeidade sofredora: isso subverte o “mal” e vai possibilitar,
no futuro, o processo de libertação.
b)
Esta que está ali na miséria
é uma vítima de um sistema X.
c)
Re-conheço
essa vítima como um ser humano com dignidade própria e como outra que o sistema
X. (Ibidem, p. 378)
d)
Este re-conhecimento me/nos
situa como re-sponsáveis pela vítima diante do sistema X. (Ibidem)
e)
Eu tenho o dever ético,
porque sou responsável por ela, de tomar a meu cargo essa vítima. (Ibidem, p.
370)
f)
Sendo re-sponsável diante do
sistema X pela vítima, devo (é uma obrigação ética) criticar este sistema
porque causa a negatividade desta vítima. (Ibidem, p. 379)
g)
Não atues de maneira que tua
ação cause vítimas, porque somos re-sponsáveis por sua morte,tu e eu, e por
isso seríamos criticáveis por seu assassinato. (Ibidem, p. 380).
Dussel observa que a Ética da Libertação obriga a
fazer uma descrição mais rica e detalhada da ordem das pulsões e dos tipos de
racionalidade ou princípio ético do processo qualitativo e quantitativo do
desenvolvimento da vida dentro de uma comunidade. Observando que no contexto da
vida humana está incluído uma participação responsável pela preservação de toda
espécie de vida (que seria a ética
ecológica).
A
aplicação da ética da libertação de Dussel tem que partir da própria
comunidade, constituídas pelas vítimas que se auto-reconhecem como dignas e que
se afirmam como auto-responsáveis por sua libertação. Fundamento defendido por
Marx que coloca a vítima como quem se auto-emancipa e em Paulo Freire que
considera a vitima como quem toma consciência crítica e realiza a transformação
de seu saber e práxis libertadora.
AUTORA: ENEIDE POMPIANI DE MOURA
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