sexta-feira, 16 de março de 2012

Platão e Aristóteles na visão da Antropologia Filosófica


Este é um texto do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existencia - Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo (março/2012).


Na antiguidade grega inicialmente vamos encontrar a força propulsora de tudo que desafia o homem a produzir mitos, o mistério, que envolve a vida e o ser. O homem sente-se como que jogado na existência, em meio à multiplicidade de fenômenos, que o desafiam e que ele tem de ordenar ou organizar, dando significado, em função de um viver. Não só em função da sobrevivência física ou biológica, como todo animal, mas também em função da sobrevivência psicológica e social; o que é próprio do ser humano. Há uma relação estreita entre homem e cosmos. Daí efetivamente podermos afirmar que nesse passo temos uma antropologia cosmocêntrica. Nesse link estão, por exemplo, Homero e Hesíodo, apesar deles já aflorarem alguns elementos de um humanismo que procurava e buscava definir um ideal humano de vida que, partindo embora dos limites da situação existencial do homem, dele depende e por ele é criado.
Passando para a antiguidade clássica vamos encontrar Protágoras (485-411 a.C) p primeiro a formular, numa expressão clássica, a necessidade do homem de avaliar tudo, o que em termos amplos significa a necessidade de tudo mundanizar. Disse ele: “Pánton chremáton métron estin ánthropos (De todas as coisas, sobretudo as de uso e costume, o homem é a medida)”.
Surge nesse momento a passagem de uma antropologia cosmocêntrica para uma antropologia antropocêntrica. Nesse contexto vamos perceber a atuação dos autores pré-Socráticos (a corrente sofística), Sócrates, Platão, Aristóteles e as correntes posteriores (epicurismo, estóicos e os neoplatônicos).
Platão realmente estabelece uma antropologia centrada no dualismo cosmológico e antropológico, concebendo a vida humana, em força da sua própria estrutura, como sendo tensão a resolver-se. Tensão que não se exaure no horizonte da vida pessoal. Ela continua vigente na vida da polis. A sociedade repete, no nível macroscópico-social, aquilo que cada pessoa é no nível individual.
No plano individual o homem é composto por corpo e alma, ou seja, o humano só pode ser completo se for dual. Assim, Platão inaugurou o que ficou conhecido como dualismo. Para ele, o homem não pode ser compreendido apenas pelo corpo ou pela alma. O corpo segundo ele é a morada da alma. A alma é a que dá vida à mente, e, esta permite o intelecto e por fim o conhecimento. Assim sendo, o homem tem duas moradas: a concepção do corpo em antítese ontológica com a alma. Assim ele nos diz no Fédon 67 A: “Além disso, por todo o tempo que durar nossa vida, estaremos mais próximos do saber, parece-me, quando nos afastarmos o mais possível da sociedade e união com o corpo, salvo em situações de necessidade premente, quando, sobretudo, não estivermos mais contaminados por sua natureza, mas, pelo contrário, nos acharmos puros de seu contato...

Segundo Platão, o homem tem uma centelha do divino. O que mais aproxima da essência divina é o amor que deve ser naturalmente algo que vem da alma, pois esse sentimento vai impulsionar a alma à verdade. (Fedon). O Dualismo corpo-alma, a imortalidade da alma, a transcendência, são temas importatíssimos em Platão.
Em Aristóteles, inicialmente podemos destacar que ele é tido por alguns como sendo o primeiro a conceber a antropologia enquanto ciência, buscando também realizar uma sistematização filosófico-científica no que se refere ao debate sobre o homem. Ele responderá ao questionamento de “quem é homem?”, apontando para uma interpretação da vida do ser humano, no contexto da vida em geral. Nasce aqui a vinculação de uma pretença política porque na origem o homem é social. Entra nesse contexto o debate sobre a ética e a vida prática. Assim sendo, a concepção aristotélica de homem centra-se em suas capacidades racional e discursiva, ambas intimamente ligadas à capacidade social. Dada a sua natureza racional, o homem atinge a plenitude de seu ser na posse do conhecimento. A atividade reflexiva permite ao homem afastar-se de sua condição finita e aproximar-se da natureza divina, pois a filosofia primeira é conhecer as causas, que são produzidas por Deus e objeto do conhecimento divino. Assim sendo, para nosso Estagirita o homem realmente é especial e foi tratado por ele com tanta maestria, que podemos dizer que a sua antropologia alcança até hoje os fundamentos da concepção ocidental do homem.

Autor: Prof Vicente Sérgio Brasil Fernandes

sábado, 10 de março de 2012

Diferença entre a religião e a espiritualidade




DIFERENÇAS ENTRE
RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
(Desconheço a autoria)

A religião não é apenas uma, são centenas.
A espiritualidade é única e pertence a cada indivíduo. 

A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que estão despertos e sedentos da Verdade. 

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer, querem ser guiados.
A espiritualidade é para os que prestam atenção à  Voz  de DEUS . 

A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo e buscar a Verdade maior. 

A religião ameaça e amedronta.
A espiritualidade lhe dá Paz Interior. 

A religião fala de pecado e de culpa.
A espiritualidade lhe diz: “aprenda com o erro e evolua”. 

A religião reprime.
A espiritualidade transcende  e te faz verdadeiro! 

A religião não é Deus.
A espiritualidade é Tudo e portanto é Deus. 

A religião inventa, interpreta e divulga de acordo com a época. 
A espiritualidade descobre o que deve ser percebido pelo homem pensante. 

A religião  acata.
A espiritualidade questiona tudo. 

A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, é de DEUS e do TODO. 

A religião é causa de divisões.
A espiritualidade é causa de União. 

A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade te convida a busca-la e entende-la.

A religião segue preceitos.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros. 

A religião se alimenta do medo.
A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé. 

A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade faz Viver na Consciência. 

A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser. 

A religião alimenta o ego.
A espiritualide nos faz Transcender. 

A religião nos faz renunciar ao mundo.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele. 

A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação. (*)

A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora. 

A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive no presente. 

A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência. 

A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna. 

A religião promete para depois da morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

(Desconheço a autoria)


Paz Profunda
Eneide

quinta-feira, 8 de março de 2012

Lugar do Homem na Cultura Grega - visão da Antropologia Filosófica


Este é um resumo feito por mim do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes do fórum de discussão sobre “O Lugar do Homem na Cultura Grega” da disciplina "Tópicos de Antropologia Filosófica" do curso de Pós-graduação em Filosofia da Existencia, Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo (março/2012).


Diz o Prof Vicente: desejo observar algo que considero interessante nessa compreensão do processo de formação cultural do homem grego.
Geograficamente falando fazia parte do mundo grego antigo a própria Grécia, as muitas ilhas que povoam o mar Egeu, orlas marítimas da Ásia Menor, do Mar Negro e do norte da África, bem como, terras na Itália, na Sicília e no Sul da França. Portanto, verifica-se que o conceito de mundo grego não indica uma unidade territorial, e não é um conceito geográfico. O mundo grego conceitual é estritamente cultural.
Assim sendo, isso significa dizer que a totalidade dos grupos humanos viventes naquele período, mesmo que espalhados por várias localidade, mantinham a mesma cultura e se entendiam enquanto “gregos”.
A reflexão grega sobre o homem constituiu-se a partir de vários influxos da percepção da realidade pela religião, pela sociedade e pela filosofia grega. Com base nisso encontramos certos elementos que são relevantes para a compreensão da visão antropológica grega. Assim, por exemplo, na concepção da antiguidade, as respostas estavam ligadas a algumas perspectivas imateriais e eternas.
Cultura aqui se entenda como a maneira de viver e ser de um povo, diversa da maneira de ser de outro. Suas crenças próprias, típicas, características. Os gregos espalhados pelos diversos países constituíam uma única nação cultural.
A cultura é compreendida como totalidade das manifestações e formas de vida que possibilitam a caracterização de um povo, sendo grego ou não. A cultura é a própria existência do homem, posta em questão pelo eu individualizado: todo o modo de ser do homem é um questionamento. Ao fazermos isso, inauguramos uma nova linguagem, uma nova forma de compreensão do mundo ou do próprio homem que o habita.
 Este processo de reconhecimento de algo que era permanente num horizonte de diversidades de povos, trouxe a compreensão original de pertença a um só povo.
A cultura para o homem grego, pode ser entendida como a totalidade das manifestações e formas de vida que permite a caracterização de um povo. Pois, como sabemos, foi sob o aspecto da cultura que o povo grego considerou a totalidade de sua obra originária em relação a outros povos.
A cultura grega não é um dado exterior ou soberano, mas é um “produto” do agir do homem. Na sua individualidade o homem cria, pensamentos, ações e linguagem que formam a cultura que é também o lugar da realização comunitária.
Efetivamente é próprio do povo grego esse processo de reflexão sobre si mesmo, sobre suas características, sobre seu modo de vida, seus medos. Essa especificidade está explícita inicialmente nos mitos e posteriormente nos demais pensamentos que foram sendo produzidos por aqueles que consideramos “os pensadores” do período. E a pergunta inicial de tudo é: quem é o homem.
O debate que era premente naquele tempo, para não dizer urgente eram questões como: Que bicho é o homem que tem a capacidade de colocar a si mesmo, ao mesmo tempo, como objeto e como sujeito da reflexão filosófica? No entanto, somente podemos realizar o retorno ao que somos se nos dignarmos alcançar o fim do caminho discursivo que percorre a pergunta inquietante: “quem sou eu?”, através da perseguição da pergunta: “quem é o homem?
Contudo, ao discutir sobre quem é esse homem os debates e as reflexões transpõem o espaço do indivíduo e caminham em direção ao coletivo.
O sentido da cultura para o homem grego representa a superação do Zoe (vida animal) para uma vida ideal – BIOS – onde qualifica a pessoa para o exercício da vida política. A partir da cultura grega há o surgimento da cultura como unidade histórica dando expressão ao homem grego como para todos os outros povos independente de ter ou não origem grega. A cultura passa a ser entendida como um princípio formativo através da caracterização de um povo em suas manifestações e formas de vida.
Particularmente considero essa a grande sacada dos gregos, qual seja, compatibilizar de forma absolutamente equilibrada o espaço público e o privado, entendendo o primeiro como um aprimoramento do segundo. Ou seja, é no âmbito das relações que as diferenças se mostram importantíssimas e os interesses individuais se mostram menos importantes. Daí a ênfase no espaço público como o lugar da felicidade e da realização. Aparece aqui a “polis”.
 Entender a pólis é fundamental para entender o sentido da existência do homem grego. Dentre outras questões, a geração de novas estruturas existenciais se torna possível pois permite que, a principio, o homem se perceba como indivíduo e como ser político.
Efetivamente, a realidade cultural fez com que na organização política o povo grego se estruturasse sua autonomia, o que fez surgir – como todos e todas sabemos - as Cidades-Estado autônomas.
Um outra questão é o sentido de existência para os gregos. Antes do nascimento da filosofia, os poetas tinham imensa importância na educação e na formação espiritual do homem entre os gregos, muito mais do que tiveram entre outros povos. Esses poemas também são conhecidos como mitos. Conhecer o significado, a estrutura e a linguagem do mito é de fundamental importância, se quisermos ter acesso à cultura helênica.
A força impulsionadora do mito é o mistério que desafia o homem, que envolve a sua vida e o seu ser. O homem sente-se como que jogado na existência, em meio à multiplicidade de fenômenos, que o desafiam e que ele tem de ordenar ou organizar, significativamente, em função de um viver razoável.
Portanto, a estrutura do pensar mitológico e uma estrutura dualista. De um lado temos o mundo real, físico ou social, marcado pela precariedade significativa, ao qual se opõe o mundo do sagrado, também ele, segundo o mito, real, apesar de transcendente.
O mundo dos deuses opõe-se ao mundo empírico, um mundo de significado pleno. E é por ser pleno e diverso do mundo empírico e, transcendente a ele, que o mundo dos deuses pode explicá-lo. Portanto, a função do mito é certa forma fazer o grupo viver ou vivê-los.
Os mitos traçavam caminhos de existência significativa e caminhos de comportamentos válidos. Portanto, não são delírios. Neles – os mitos - , pelo contrário, sente-se pulsar o questionamento que, mais tarde, a razão explicitará melhor.
No mito, a razão não faz, ainda, abstrações e não se conhece como força cognitiva crítica, capaz de depurar, no crivo da lógica, as imagens da fantasia. Contudo, é forçoso reconhecer os limites dessa abordagem fantástica da realidade.
Na história do mundo grego, Homero (Ilíada e Odisséia) e Hesíodo (Teogonia) marcam esse início.

terça-feira, 6 de março de 2012

Visão da Antropologia Filosófica sobre “O Homem (o Ser Humano)”

Este texto foi baseado na aula de Pós-graduação em Filosofia da Existencia - disciplina - "Tópicos de Antropologia Filosófica" - Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo -  sob a orientação do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes.

Definições:
ANTROPOLOGIA: vem do grego anthropos (homem) + logos (tratado, estudo) + ia: estudo das raças e variedades humanas; história natural do homem, enquanto um ser animal.

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA: tem como objeto de estudo a origem, a natureza e o destino do homem, bem como o seu lugar no universo. O desafio está em se tentar descobrir qual a essência humana, sob a ótica filosófica.

ESSENCIA: é a natureza de cada coisa. É aquilo que faz cada coisa ser ela mesma e não outra; o que a distingue das demais coisas, colocando à parte características acidentais e secundárias, tais como forma, tamanho, cor, etc.
 
Quando nos referimos a Essência Humana temos três dimensões: é um ser que tem alma ou espírito; é livre; é capaz de elaborar valores e atuar de acordo com eles; vive em sociedade e tem uma história, porque é capaz de evoluir de forma constante; possui uma linguagem convencional humana e é capaz de produzir cultura.
                       
O Homem ( o Ser Humano ) é um ser animal através de características comuns como: estar vivo; possuir um corpo (matéria viva organizada); está sujeito as mesmas leis que governam todas as matérias vivas; tem mobilidade; instinto de auto-preservação para sua sobrevivência.

O Homem ( o Ser Humano ) se diferencia dos animais por: agir sobre a natureza de forma intencional e planejada; por possuir consciência (auto-consciencia); capacidade de transformar a natureza para adaptá-la às suas necessidades e ser racional.

O Homem (o Ser Humano ) como ser racional, ele é capaz de: refletir, emitir juízos, dominar e modificar a natureza através de técnicas; elaborar conceitos e idéias; tem um conhecimento ilimitado é capaz de compreende a si mesmo e às coisas que o rodeiam. O Homem ao buscar seus fins, a partir de seus valores: torna-se efetivamente humano, isto é, tornar-se pessoa com características singulares de um sujeito pensante.

O Homem (o Ser Humano ) como ser pensante, ele se projeta para o futuro em busca do infinito; o impulsiona para à ação racionalizada. Assim, é através do pensamento e da raciocínio que o homem resgata o que ele já praticou (o passado), possibilitando-o compreender melhor o presente e projetar melhor o futuro de forma mais adequada e promissora. Esse processo faz com os conhecimentos adquiridos sejam, constantemente, renovados, o que permite e garante o avanço e progresso de cada geração em relação a seus antepassados.


O Homem ( o Ser Humano ) como ser psíquico, possui uma identidade própria e esta lhe garante uma singularidade;necessita de afeto, compreensão, aceitação, auto-estima e auto-respeito; é dotado de sentimento e este o faz ter aspirações, desejos e necessidades buscando novas alternativas e perspectivas.


Com todas estas características, o Homem ( o Ser Humano ) não consegue viver sozinho; necessita compartilhar sua existência com os demais sujeitos sendo de sua natureza/essência ser social e consequentemente político. Toda a produção da existência humana é um convite permanente para a ação, o que permite caracterizar o homem como um ser da práxis;

O Homem (o Ser Humano ) como ser da Práxis que vem a ser toda ação humana caracterizada pela finalidade, consciência, liberdade e responsabilidade, onde encontramos o pensar e o agir. O homem, através do trabalho, da ciência e da tecnologia transforma o mundo em seu próprio mundo, ou seja, à sua própria imagem. Assim, o homem modifica constantemente o que está ao seu redor.

O Homem (o Ser Humano ) modificando o que está ao seu redor, o homem intervém no curso da história, renova e inova sua existência pessoal e coletiva, transformando o mundo e transformando-se a si mesmo por meio de sua ação, que se fundamenta na racionalidade, liberdade e intencionalidade da consciência.

O Homem (o Ser Humano ) tem consciência do tempo, como conseqüência, ele percebe a sua finitude quando reconhece o ciclo da vida: nascer, crescer, amadurecer e morrer. Assim, ele não se satisfaz com o que é agora: está em constante procura de ser melhor;

Ao mesmo tempo que o Homem (o Ser Humano )  aspira por novas possibilidades, ele está consciente de suas limitações e compreende que é um ser finito que procura a perfeição e o absoluto.Para sair dessa situação contraditória, o Homem (o Ser Humano )  se lança na esfera espiritual e, aí, ele adora, cultua, reverencia forças e divindades consideradas entidades superiores e transcendentais através dos ritos e mitos por ele criado.
Diante desse mundo hostil e de uma realidade indecifrável, ele reza, arrepende-se, pede perdão pelos erros cometidos e invoca proteção e segurança de um deus que condensa as idéias de infinitude, perfeição e completude.
           

Autora: Eneide Pompiani de Moura

segunda-feira, 5 de março de 2012

O que é Antropologia Filosófica?


Este texto foi baseado na aula de Pós-graduação em Filosofia da Existencia, Universidade Católica de Brasília - Polo: São Paulo - disciplina - "Tópicos de Antropologia Filosófica"  sob a orientação do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes.


Trata a questão do homem em sua dimensão ôntica a partir da História e da Cultura que esse mesmo homem produz. Os períodos históricos servem como base ôntica da produção histórico-cultural como um todo.
Esclarecendo que quando me refiro a Ôntico  quero me referir a tradução:  “o que se refere aos entes”. Heidegger afirma que “a pergunta ontológica é mais primordial do que a pergunta ôntica das ciências positivas”.

Quando me refiro a cultura, quero dizer, como  o conjunto das instituições e tradições, dos costumes e representações coletivas, das crenças e sistemas de valores que caracterizam determinada sociedade.
A Antropologia Filosófica considerara alguns elementos existenciais experimentados de modo coletivo no mundo da vida. 


A crise de identidade no mundo contemporâneo faz com que o enfoque antropológico direcione melhor o pensamento coletivo buscando compreender o pensamento individual de uma sociedade. Assim, é importante interpretarmos a cultura e a Filosofia que amplia as várias estruturas de significação do homem agregando possíveis maneiras de continuar o exercício de reelaboração da existência, utilizando, para isto, a rearticulação de sentidos que são construídos a partir da cultura. 


Vale ressaltar que a característica do discurso antropológico é a de uma disposição crítica que se origina do interesse por uma realização livre ou que busque sempre fundamentar uma emancipação quanto aos modos de compreender a existência, bem como o modo de vida humano.
No discurso antropológico há um compromisso com o estabelecimento de uma comum unidade de fala, de diálogo. Assim, todos os que participam deste diálogo possuem os mesmos direitos e este seria um princípio regulador para buscar uma interpretação abrangente sobre o homem, uma interpretação que conduza a uma ação mais ativa do eu no mundo, que vise a uma posição de liberdade em relação às forças legitimadas e legitimadoras da cultura. 


Ao considerarmos que toda interpretação apela para uma fundamentação de postura emancipatória, podemos compreender que a leitura sobre o modo de ser do homem é interrogativa, pois toda vivência comunicativa é da ordem do questionamento. Isto é possível se levarmos em consideração que o discurso filosófico pode se apresentar como sistema, enquanto o universo existencial apresenta configurações padronizadas. 


O interesse da Antropologia Filosófica é através de um questionamento, através do diálogo, buscar reatualizar um problema filosófico dando abertura para novas forma de compreensão do mundo ou do homem que habita este mundo. Não mais têm lugar os esquemas conceituais, já que o questionar vai sempre em busca de novas estruturas existenciais. É através do diálogo que há a permissão da autonomia daquele que fala sem a preocupação das respostas- sistemas.

É possível, então, interpretar o diálogo como forma de retirar o homem dos esquemas fixos de compreensão, assim a reflexão filosófica passa a ser também cultural, reconhecida como parte integrante de uma cultura, logo ligada ao pensamento antropológico.


A investigação filosófica antropológica faz do ato de dialogar como forma de mediação entre dois sujeitos, onde ambos possuem uma visão crítica do olhar do outro e do seu próprio olhar a partir de uma linguagem comum onde todos se comunicam. Assim o sujeito deixa de ter somente a sua intenção puramente particular e determinista para ter uma visão comunitária (com os outros sujeitos que dialogam), onde os diálogos são transitórios, provisórios e infinitos.


Reconhecendo estas variadas formas que o homem possui de se posicionar frente à existência, é sempre importante ressaltar que o ambiente da Antropologia Filosófica enfatiza a verdade como algo não estático, e isto nos faz compreender que todo acordo possibilitado pelo diálogo é transitório, provisório e, assim, interminável. O ser humano tem, no diálogo, uma forma de conduzir, de maneira plena, sua existência.
Por isso, a Antropologia Filosófica nos leva a refletir nos permitindo um  exame de propostas de novas considerações sobre os diversos modos de ser humano.


(Autora: Eneide Pompiani de Moura)

Leituras recomendadas sobre o tema:
Título: O Horizonte da Antropologia Filosófica
http://www.filosofia.or g /filomat/df263.htm

Título: Antropologia Filosófica como Questão
http://www.olavodecarvalho.org/semana/030719globo.htm

Título: Antropologia Filosófica e Filosofia
http://www.filosofia.org/filomat/df273.htm

sábado, 3 de março de 2012

Antropologia Filosófica - CULTURA GREGA

Este texto foi baseado na aula de Pós-graduação em Filosofia da Existencia , Universidade Católica de Brasilia - Polo: São Paulo- disciplina - "Tópicos de Antropologia Filosófica"  sob a orientação do Prof. Vicente Sergio Brasil Fernandes - Tema da aula: LUGAR DO HOMEM NA CULTURA GREGA.

Este texto pode ser complementado por postagens anteriormente já feitas como:
a) no vídeo Video – Uma Historia na subjetividade no ocidente. Jurandir Freire Costa (psicanalista) - Programa: Café filosófico

b) como Sócrates participa ativamente dos diálogos Platônico:


O sentido da cultura para o homem grego representa a superação do Zoe (vida animal) para uma vida ideal – BIOS – onde qualifica a pessoa para o exercício da vida política.

A partir da cultura grega há o surgimento da cultura como unidade histórica dando expressão ao homem grego como para todos os outros povos independente de ter ou não origem grega.
A cultura passa a ser entendida como um principio formativo através da caracterização de um povo em suas manifestações e formas de vida.
Os gregos levantam o problema da individualidade e com ele o inicio do entendimento da formação do EU buscando a compreensão do EU-INDIVIDUALIZADO através do paradigma grego que a LIBERDADE É ALGO NATURAL ao SER HUMANO (natural da existência humana).

            Os Gregos acreditam que o todo ordenado possui um sentido e uma posição manifestada e está simultaneamente ligado as suas estruturas (suas partes) de forma natural. Neste sentido, busca-se a apreensão das LEIS DO REAL (onde se inclui a cultura) em todos os âmbitos da existência (pensamentos, linguagem, ação) na vida EM COMUNIDADE.

Assim, o homem é um SER POLÍTICO, que VIVE NATURALMENTE em uma comunidade e à disposição da comunidade não se buscando a individualidade independente.


            A sistematização dos valores humanos são expressos pela cultura.

Temos num primeiro momento o valor religioso-familiar como formas de reger a vida humana e política mais com a cultura grega este valor (religioso-familiar) FOI SUBSTITUIDO pela POLIS (cidade-estados) através dos VALORES UNIVERSAIS, que mais tarde foi legitimado pela razão.
 
A estrutura JURIDICA DA POLIS levou a comunidade política para uma harmonia do real, como comunidade universal sendo representado pelo microcosmo inserido no macrocosmo dando um sentido espiritual  (no período da Grécia antiga) a vida política quanto a condição humana como tendo uma RAZÃO DO SER NO MUNDO.
O sentido da Existência para os gregos tem três dimensões:
A)    Vida individual ligada ao plano material
B)     Valores morais ligado ao plano espiritual
C)    Mundo da natureza ligado ao homem no universo que lhe é dado.

É em Platão que se tem o diálogo como forma de conduzir, de maneira plena, a existência.
Platão entende a existência do Ser (o homem) como um SER CONCRETO.
Platão destaca o valor do uso do DIÁLOGO como:
-         forma de auto-expressão do ser humano (expressão do ser de sua existência)
-         não se entrega ou não se integra a nenhuma forma de esquematização analítica
-         ultrapassa os limites das palavras
-         pressupõe a existência concreta de um Ser que fala (Ser como Intersubjetividade)
-         especular com o outro através da troca de conhecimentos/respeito com o outro

Há duas dimensões nos Diálogos de Platão ligadas uma a Ação e outra a Política quando:
-         informa a necessidade da comunicação (diálogo) que é AGIR SOBRE E EM DIREÇÃO AO OUTRO.
-         Indica o viver em sociedade (política).

Em Aristóteles temos a visão de que o homem só, relegado a si mesmo, não se justifica, pois também não se identifica.
Aristóteles aceita a tipologia homem. Para ele o homem é um fato homem, que tem lugar no universo, que permanece na terra e contempla a SI MESMO, a natureza e o mundo.
Para Aristóteles o homem possui um sentido que habita a si mesmo, onde no seu mundo tudo pode ser explicado por tudo ser compreendido. Tudo é forma podendo ser definidos e reproduzidos. O acaso não existe por isso tudo pode ser compreendido.
O homem ao afirmar “eu sou um homem” faz um retorno a si mesmo de forma positiva  consigo e com a natureza dado-lhes um forma e compreensão.  Quando o homem fala de si mesmo ele o diz sempre na 3.a pessoa do singular – ELE – demonstrando a IMPESSOALIDADE. O homem alcança CONSCIENCIA de si mesmo enquanto homem e não enquanto este homem, por isso ele é um ELE e não um EU.

Assim temos o homem em Aristóteles sendo simultaneamente um ELE E EU.
Um ELE quando procura exprimir o que existe de particular em relação a si mesmo (eu) e um EU que está inserido simultaneamente no conjunto psicofísico ligado diretamente a sua consciência (do seu EU existente humano) dando-lhe uma função espiritual ou transcendente (rompendo com o entendimento platônico onde o mundo supra-sensível não pode se ligar ao mundo sensível). É nesta Aristotélica que irá auxiliar a fundamentação da concepção grego-romana.

(Autora: Eneide Pompiani de Moura)

Referencias bibliograficas recomendadas
ARISTÓTELES. Convite à filosofia . Trad. Renata M. P. Cordeiro – São Paulo:
Landy, 2001.
CASSIRER, Ernest. Antropologia filosófica . Trad. Vicente Félix de Queiroz – São Paulo: Mestre Jou,
1972.
CHATELET, François. Platão . Trad. Antônio Souza Dias - Porto: Rés, 1977.
DUMONT, Jean-Paul. A filosofia antiga . Trad. Luis Carvalho. Lisboa: Setenta, 1981.
MAIRE, Gaston. Platão . Trad. Rui Pacheco – Lisboa: Setenta, 1986.
PLATÃO. Fédon . Trad. José Cavalcante de Souza. 2ª ed. São Paulo: Abril, Coleção Os Pensadores, 1983.
Antropologia filosófica . 6ª ed. – São Paulo: Loyola, 2001. Vols. 1 e 2.
Título: Questões Introdutórias à Antropologia Filosófica
http://arje.hotusa.org/antropoart.htm
Título: Identidade Humana e Filosofia
http://www.shaf.filosofia.net/1998acta.htm
Título: Antropologia Filosófica como Disciplina Autônoma
http://arje.hotusa. o rg/ a ntropo2.htm
Título: O Horizonte da Antropologia Filosófica
http://www.filosofia.or g /filomat/df263.htm
Título: Antropologia Filosófica como Questão
http://www.olavodecarvalho.org/semana/030719globo.htm
Título: Antropologia Filosófica e Filosofia
http://www.filosofia.org/filomat/df273.htm